terça-feira, 13 de março de 2012

O Priolo: de praga a espécie protegida







Em 2005, a BirdLife International, no seguimento da revisão anual da situação das espécies de aves a nível mundial, elevou o estatuto de ameaça do Priolo (ave única no mundo) para "criticamente ameaçado”, uma decisão que tinha como fundamentos a reduzida dimensão da população (menos de 300 indivíduos na altura) e o facto de se encontrar restrita a uma área de pequenas dimensões na parte oriental da Ilha de São Miguel e ainda com diversas ameaças ao seu habitat. Ave endémica da ilha de São Miguel, o priolo passou de praga – durante o século XIX, altura do Ciclo da laranja, em que causava grande destruição nas flores da Laranjeira – a espécie protegida nos dias de hoje, dado o número reduzido de aves da sua espécie. Desde 2003 que esta ave é alvo de um projecto de conservação bem-sucedido, que tenho acompanhado com assaz interesse, e que fez com que só em 2008/2009 se estimasse haver entre 500 a 800 casais.
As ameaças que subsistem à preservação da espécie são fundamentalmente a invasão por plantas exóticas da floresta natural e a falta de alimento provocada pela redução da floresta ao longo dos últimos séculos, problemas que têm sido combatidos quer pelo Governo Regional dos Açores, quer por outras associações e ainda pela própria população. Uma mostra de que só galvanizando esforços múltiplos se consegue mudar o rumo de uma espécie altamente ameaçada. Para além disto, foi criado em São Miguel um centro ambiental dedicado ao priolo, uma valência fundamental quer na protecção desta ave, quer ainda na conservação da floresta Laurissilva, seu habitat natural. Iniciativas deste género permitem, na minha opinião e desde logo, sensibilizar a população local e os visitantes para a situação desta ave e do seu habitat, bem como incutir importantes valores ambientais ao nível daquilo a que poderemos chamar de educação ambiental.
Fica claro que a única forma de travar a extinção de uma espécie passa por uma estratégia integrada de vários agentes e nesse sentido o Projecto LIFE PRIOLO, co-financiado pela Comissão Europeia e Governo Regional dos Açores reveste-se de uma importância fulcral no que concerne à gestão e recuperação da ameaçada floresta Laurissilva dos Açores, caracterizada por um elevado grau de endemismos. Disto se retira que a parceria entre a Direcção Regional dos Recursos Florestais, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, a Câmara Municipal do Nordeste, a Universidade dos Açores e a Royal Society for the Protection of Birds são uma mais-valia essencialíssima, em face dos resultados que este Projecto apresentou, reflectidos quer no habitat e na espécie, através do controlo de vegetação exótica e plantação de plantas nativas, quer a nível da alteração na legislação regional ambiental (nas vertentes de preservação e conservação do meio ambiente e bem assim das espécies animais) e planeamento do futuro da ZPE (Zona de Protecção Especial), quer a nível da sensibilização da população para a problemática do Priolo. Numa altura em que as metas da biodiversidade ficam aquém do pretendido e em que a destruição quer de habitats quer de espécies são uma constante, o evitar da extinção desta espécie é, do meu ponto de vista, uma esperança e uma lição para o mundo de que é possível reverter situações idênticas.


Nota: Em 2009, fruto de um projecto final de Curso em Produção de Documentários de Vida Selvagem na Universidade de Salford, Madalena Boto realizou um  documentário muito interessante sobre o Priolo que poderão ver a baixo. 

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