A população mundial passou de 2,5
biliões de habitantes para 7 biliões entre 1950 e 2011. No mesmo período, a
população urbana passou de 730 milhões (29%) para 3,6 biliões de habitantes
(51% da população total). Enquanto a população total cresceu 2,8 vezes, a
população urbana cresceu 4,9 vezes, em seis décadas, segundo dados da divisão
de população da ONU.
As
projeções para 2050 indicam uma população mundial de 9,3 biliões de habitantes,
sendo que 6,3 biliões estarão no meio urbano, o que significará cerca de 70% da
população mundial a viver em cidades. Ou seja, nas próximas quatro décadas, a
população rural do mundo vai diminuir de 3,4 biliões de habitantes para 2,8
biliões, enquanto a população urbana vai absorver todo o contingente de pessoas
que vão nascer (2,3 biliões) mais a migração líquida dos 600 biliões que vão
sair do meio rural para o meio urbano. Assim sendo, a população urbana do mundo
vai passar dos actuais 3,6 biliões para 6,3 bilhões de habitantes em 2050, um
acréscimo de 2,7 biliões de pessoas nas cidades em apenas 40 anos.
A
urbanização é uma tendência que veio para ficar e que se vai expandir nas
próximas décadas, como bem mostrou o demógrafo George Martine, no relatório do
UNFPA de 2007. Assim sendo, neste cenário, a questão mais interessante que se
pode colocar é como tornar as cidades mais sustentáveis e ecologicamente mais
amigáveis.
Em
2008, foi assinada a Declaração Comum das Cidades Europeias contra as Mudanças
Climáticas, preparada pela Eurocities (rede europeia na qual participam também
Lisboa e Porto), através da qual as cidades se comprometeram a desenvolver
políticas em matéria de urbanismo, de energia e de transporte, para que o seu
modo de desenvolvimento mude e as cidades possam reduzir, por exemplo, a
emissão de gases com efeito de estufa e os problemas de poluição (as cidades
desempenham um papel crucial na solução do desafio climático. Mais de 70% das
emissões mundiais de CO2 vêm das cidades).
Numa
área urbana, ser ecológico é um desafio único. As cidades apresentam um grande
volume de pessoas, muito tráfego, lixo e poluição atmosférica. Cerca de 75% da
energia mundial é consumida nas cidades. As cidades ecológicas procuram encontrar um equilíbrio entre a gestão
das suas necessidades actuais e o não comprometimento do futuro da cidade (e do
meio ambiente).
As
cidades-modelo são classificadas em função de um conjunto de critérios, como o
planeamento urbano, as estatísticas ambientais, as fontes de energia, os índices
de consumo e as emissões, as opções de transporte, as áreas verdes, a
disponibilidade de parques públicos, os empregos ecológicos, os edifícios sustentáveis, bem como perspectivas ecológicas, como a reciclagem.
O site Grist elegeu as cidades que merecem destaque e reconhecimento, em função das suas práticas ecológicas e das suas inovações e liderança na defesa do meio ambiente. As oito cidades mais ecológicas do mundo são:
·
Reykjavik, Islândia: todos os autocarros são movidos a hidrogénio e há uma rígida política de
incentivo ao uso dos transportes públicos. Além da capital, todo o país é
abastecido quase exclusivamente por fontes renováveis de energia e tem o
compromisso de se tornar, até 2050, livre de combustíveis fosséis.
·
Portland, Oregon / USA: a Cidade das Rosas, como é
conhecida, é um exemplo de planeamento urbano e uma das cidades mais verdes que
há para viver. Foi a primeira cidade a aprovar um plano global para reduzir as
emissões de CO2 e tem políticas agressivas para incentivar as construções
ecologicamente correctas. Os meios de transportes públicos ajudam muito a
retirar milhares de carros das ruas e a cidade orgulha-se dos 92.000 hectares
de espaços verdes e mais de 120 quilómetros de ciclovias e caminhos de passeio.
·
Curitiba, Brasil: reduziu 70% dos desperdícios e construiu um
sistema de trânsito com poucos gastos. O sistema integrado de transportes
públicos foi aclamado como um dos melhores do mundo, apesar de estar a sofrer
com o excesso de carros particulares nas ruas. Curitiba tem a impressionante
marca de 180 m2 de área verde por habitante e, de acordo com
pesquisas, 99% da sua população está contente com a cidade em que vive.
·
Malmö, Suécia: conhecida pelos seus extensos parques e áreas
verdes, a cidade de Malmö, terceira maior cidade da Suécia, é um modelo de
desenvolvimento urbano sustentável. Com o objectivo de tornar a cidade uma
“ekostaden” (ecocidade), vários bairros já foram transformados, usando um
design inovador com alternativas sustentáveis. O incentivo ao uso da bicicleta
e o extenso sistema de transportes públicos tornam a cidade ainda mais verde. Malmö utiliza
os resíduos dos moradores para os autocarros. A Suécia é líder em soluções de eletricidade
verde – a maioria da eletricidade do país é gerada por energia nuclear
e hidroeléctrica.

·
Copenhaga, Dinamarca: com um grande parque eólico e uma imensa
população que se desloca apenas em bicicletas, Copenhaga é um sonho verde. A
cidade acaba de inaugurar um novo sistema de metro, que tornou o trânsito ainda
mais eficiente, e ganhou recentemente o Prémio Europeu de Gestão Ambiental pela
limpeza das suas vias aquáticas e pelo planeamento ambiental a longo prazo. Além disso, Copenhaga é famosa
pelos seus moinhos de vento. Mais de 5,6 mil moinhos fornecem 10% da electricidade
da Dinamarca
e, em 2001, Copenhaga inaugurou o maior parque marítimo de moinhos. O parque
tem capacidade para abastecer 32 mil residências na cidade e atender a cerca de
3% das suas necessidades de energia. Copenhaga está focada em reduzir ou até
eliminar as emissões de gases com efeitos de estufa.
·
Londres, Inglaterra: desde o Plano de Ação para as Mudanças Climáticas,
a capital de Inglaterra tem vindo a inovar e a tornar-se mais verde. De acordo
com o plano, Londres vai mudar 25% da sua energia para fontes renováveis e
cortar as emissões de CO2 em 60% nos próximos 20 anos. Há também um plano de
incentivo para os habitantes renovarem e melhorarem a eficiência energética das
suas casas. A cidade também já fixou elevados impostos sobre o transporte
pessoal, para limitar congestionamentos na zona central da cidade, além de
políticas de incentivo aos veículos eléctricos, híbridos e SUV’s.
·
São Francisco, Califórnia / USA: quase metade dos moradores de São Francisco
andam diariamente de transportes públicos, a pé ou de bicicleta e mais de 17%
da área total da cidade é reservada a parques e espaços verdes. São Francisco também
é líder nas construções certificadas (LEED), com mais de 70 projectos
registados. Em 2001, a cidade abriu uma grande linha de financiamento para a
criação de painéis solares, turbinas eólicas e para a melhoria da eficiência
energética. Foi a primeira cidade do mundo a proibir sacos de plástico
não-recicláveis e brinquedos que contenham produtos químicos.
No caso
da China, que tinha 64 milhões de
habitantes (12% do total) a viver nas cidades em 1950 e passou a ter 635
milhões em 2010 (47%), devendo ultrapassar 1 bilião de habitantes (73%) em
2050, a necessidade e as vantagens de construção de cidades ecológicas são
evidentes.

Em Portugal, desde 2008
que seis cidades transmontanas passaram a trabalhar em rede,
numa estratégia de desenvolvimento assente no conceito "eco", que tem
previsto um investimento de 15 milhões de euros em projectos comuns. Bragança,
Chaves, Macedo de Cavaleiros, Miranda do Douro, Mirandela e Valpaços decidiram
aproveitar um instrumento comunitário que permite às cidades agruparem-se para
trabalhar em conjunto e criaram a Rede
de Cidades Ecológicas e Inovadoras de Trás-os-Montes. A ideia é adoptar um
modelo de desenvolvimento comum em torno da sustentabilidade ambiental e do
conceito "eco", nas vertentes da agro-indústria, da energia, do
turismo e da construção, que será pioneiro no nosso país. O objectivo é desenvolver
um sistema urbano integrado em torno das temáticas da ecoeficiência e da sustentabilidade
ambiental, que valorize as complementaridades existentes e que estimule
factores de diferenciação entre as cidades da rede.
Resta
saber se estas cidades ecológicas vão conseguir redireccionar o processo de
urbanização. De fato, é cada vez mais urgente encontrar soluções que permitam
conciliar as condições ecológicas com a crescente urbanização. Construir
algumas cidades ecológicas até pode ser relativamente fácil, difícil vai ser
tornar todas as demais cidades sustentáveis, com economia de baixo carbono e
com baixo impacto ambiental.
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