Ratificada por
186 países em todos os continentes, em Dezembro de 2001 foi a vez da UNESCO
elevar o Alto Douro Vinhateiro (ADV) a Património da Humanidade, sendo
considerado paisagem cultural evolutiva viva.
À classificação como património cultural
subjaz o critério ‘valor excepcional’. De cariz indeterminado, a UNESCO
procedeu à definição do conceito nas Operational Guidelines for the
Implementation of the World Heritage Convention. Os locais classificados
deverão corresponder a um dos dez critérios estabelecidos em especial ligação
com três aspectos: unicidade, autenticidade histórica e integridade.
Como consequências
positivas desta atribuição destacam-se a sua protecção específica e a atenção
prestada pelo público em geral, decisores públicos, eventuais mecenas e
empresas privadas.
Todavia os
impactos negativos estão presentes:
No processo de selecção dos locais que se baseia
mais em pareceres de peritos em história e arte e menos em estudos económicos,
essenciais e de papel importantíssimo uma vez que a determinação do valor do
bem e seus custos de preservação implicam a afectação de recursos financeiros,
com o surgimento de externalidades negativas e free-riding próprios dos bens
públicos;
No aumento de locais classificados pela UNESCO
como Património Mundial, sinal de valorização cultural e ambiental mas numa
lógica de utilidade marginal, diminuição do ‘valor’ atribuído aos bens com
risco de vulgarização;
Em feitos colaterais de menor atenção por parte
dos agentes políticos e económicos aos bens culturais e naturais não
classificados;
Na degradação provocada pelo aumento de popularidade e consequentemente de turistas.
Na degradação provocada pelo aumento de popularidade e consequentemente de turistas.
No
caso do Alto Douro Vinhateiro, deparamo-nos com a coexistência entre elementos
naturais, patrimoniais e históricos e a competitividade associada a um mercado
desenvolvido e globalizado, em que a vitivinicultura é o principal suporte
económico da região. Fazendo parte da Região Demarcada do Douro (RDD), a mais antiga região vitícola demarcada e
regulamentada do mundo em que as primeiras demarcações ocorreram entre 1757 e
1761, o ADV representa a área de maior qualidade e beleza natural da região,
apresentando um bom estado de conservação.
No ADV estão presentes três traços
fundamentais: obra humana, paisagem cultural evolutiva viva e elementos
culturais na paisagem.
Obra humana pois o Alto Douro Vinhateiro
surge como paisagem moldada por actividades do Homem. Além da vinha, que
representa 38% do uso do solo, destaca-se aindo o olival (13,3%). No seu total,
as culturas selecionadas pelo Homem representam hoje mais de 55% do solo. A
forma de ocupação do solo demonstra o mosaico como a sua característica principal.
Paisagem cultural evolutiva viva pois nesta
são visíveis diversas técnicas de produção da vinha, desde as vinhas em
terraços pré-filoxera, os terraços pós-filoxera e as formas mais modernas a
partir da década de 70, isto é, vinhas em patamares, vinhas ao alto e vinhas
plantadas sem armação de terreno. No início da última década, predominavam no
ADV a vinha em terraços pós-filoxera (50%), seguidos da vinha em patamares
(35%). As formas mais modernas ocupam 12% do solo e a vinha em terraços pré-filoxera
apenas 2%.
Relativamente aos elementos culturais na
paisagem, são de destacar os muros em xisto, autênticos suportes para amparar
os terraços ou socalcos produzidos para plantar vinha nas encostas. Além destes
são ainda marcantes como característicos da região os aglomerados populacionais,
a acessibilidade que reflecte o modo de viver da população e os elementos
religiosos.
Após a consagração da UNESCO, o ADV passou a
ser regulado por planos e organismos específicos de uso do território: o Plano
Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (Resolução
do Conselho de Ministros nº 150/2003), a Estrutura de Missão para a RDD
(Resolução do Conselho de Ministros nº 116/2006) e a Liga dos Amigos do Douro
Património da Humanidade (iniciativa da sociedade civil datada de Dezembro de
2002).
A maioria das explorações agrícolas
pertencem, na sua grande parte, a um elevado número de pequenos vinicultores.
As quintas, de maior dimensão, pertencem a famílias residentes na zona ou a
grupos empresariais dedicados ao comércio do Vinho do Porto. Outros elementos
do património cultural como as capelas e os miradouros são geridos pela igreja
ou pela Junta de freguesia. A gestão do território é da responsabilidade dos
municípios. Apesar da maioria dos direitos de propriedade pertencerem a pessoas
singulares e colectivas de Direito Privado, a paisagem cultura do Alto Douro
Vinhateiro é um bem de apropriação colectiva. Desta modo existe alguma
ambiguidade no que toca a quem são afinal os que beneficiam dela, os que
suportam os custos e os quem tomam as decisões. No ADV distinguem-se três
grupos de beneficiários: residentes, turistas e não visitantes (que retiram
benefícios públicos da preservação do ADV, designadamente de não uso). Os que
suportam os custos de preservação são por sua vez os proprietários. Quanto à
tomada de decisões esta cabe aos Municípios e por exemplo á Estrutura de
Missão.
Assim, é evidente o papel do turismo no
desenvolvimento e manutenção desta região, tendo as decisões políticas de saberem
dar uma resposta à crescente procura. Um programa de preservação do ADV de
acordo com as preferências dos seus visitantes/turistas e opiniões dos peritos
permitiria além de um desenvolvimento sustentável da região, um encontro entre
a oferta e a procura na região com todas as suas potencialidades.
Após um estudo realizado que envolveu
pré-testes, discussões públicas e encontros com peritos, chegou-se à conclusão
que os elementos a integrar um programa de preservação do Alto Douro Vinhateiro
seriam: vinha em socalcos amparados com muros de xisto; mosaico paisagístico;
aglomerados; preço. Para todos os atributos (excepto o preço) chegou-se à
conclusão que ou o atributo é salvaguardado ou acabará por desaparecer.
Urge assim fazer nascer um programa de gestão
e preservação de forma a colmatar falhas e permitir a interacção entre a
história e património do Alto Douro Vinhateiro e o desenvolvimento sustentável
numa óptica intergeracional de uma zona que é o berço de um dos maiores nichos
de mercado da exportação em Portugal.
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