O
vice-presidente da ISWA, David Newman, alertou para a produção de resíduos, que
continua a aumentar. No entanto, o crescimento da reciclagem pode ser uma forma
de contornar o problema.
Alemanha, Holanda, Áustria e Suíça são os
únicos países da União Europeia (a 27)
que já não utilizam os aterros
sanitários para a deposição de resíduos. Suécia, Dinamarca e Bélgica são
os Estados-membros que estão muito perto de conseguir igual efeito. Ainda assim,
os números não enganam: a deposição em aterro é ainda o destino final da
maioria dos resíduos sólidos urbanos (RSU) com 60 por cento, no espaço
europeu, em 2009.
Foi na abertura da mesa redonda dedicada ao
tema “Resíduos: Problema ou negocio?” que David Newman, vice-presidente da
International Solid Waste Association (ISWA), apontou estes dados como
preocupantes. Até porque o aumento populacional previsto tem associado um
aumento da produção de resíduos. “Só o facto de as populações mudarem do campo
para a cidade duplica a produção de resíduos”, sublinhou o especialista. Para receber todos
estes “excessos” produzidos, existem 1479 aterros e 408 incineradoras para RSU (dados de 2009), por toda a União
Europeia. Mas além da questão de falta de espaço que a utilização de aterros
acarreta, a produção de gases com efeito de estufa (GEE) é outro dos efeitos
nefastos. Portugal é o sétimo Estado com mais emissões de GEE provenientes de
aterros, atrás de França (que lidera), Itália, Reino Unido, Espanha, Alemanha,
e Polónia. É neste contexto que David Newman confessa ter dúvidas que a
prevenção esteja a resultar, apesar da legislação existente desde 1995. Apenas
em 2007 se verificou uma quebra na produção de resíduos, mas tal deveu-se com
certeza à crise, que é “um facto
positivo do ponto de vista ambiental”. Ainda assim, “Portugal tem um bom
modelo de gestão de resíduos e uma boa taxa de reciclagem”, disse.
Uma das formas de promover a reciclagem passa
pelo fim do estatuto de resíduo de alguns materiais, que está agora em cima da
mesa. “Mesmo alguns metais que são já muito economicamente compensadores para
reciclar apresentam uma taxa de reciclagem entre 56 e 75 por cento de resíduos
gerados”, sustenta. Na Alemanha, por exemplo, a deposição em aterro foi
proibida logo em 2005, avançou Patrick Hasenkamp, vice-presidente da Associação
de Entidades Municipais de Gestão de Resíduos daquele país. Já a Holanda, outro
dos países que não utiliza o aterro, optou por aumentar anualmente as
respectivas taxas.
Ricardo Furtado, diretor-geral da Valorcar –
Sociedade de Gestão de Veículos em Fim de Vida, observou que “há reciclagem e
reciclagem”. Empresas com a mesma tecnologia podem ter reciclagem diferentes,
referiu, apelando à melhoria da qualidade dos materiais reciclados. A mesma
nota é válida, segundo o responsável, para os materiais que serão objecto do
fim de estatuto de resíduo, e que estarão disponíveis para reutilização, desta
feita como subproduto. Para se obter esta classificação, o ainda resíduo tem de
cumprir uma série de requisitos específicos, os quais exigem “investir
bastante”, o que só será viável se houver mercado para estes materiais. “Falta
garantir a resposta do mercado”, acrescentou ainda o representante da Valorcar.
Nuno Lacasta, diretor da Agência Portuguesa do
Ambiente foi lacónico, afirmando que a desclassificação de materiais “estava em
cima da mesa”. A regulamentação para o composto orgânico [que aguarda o parecer
da tutela da agricultura desde o anterior Governo] ainda está em “apreciação na
tutela”, avançou também o dirigente.
David Newman alertou que o aumento da
importância económica da reciclagem na UE exige, por um lado, “iniciativas que
suportem a procura de materiais recicláveis na indústria dentro e fora da
Europa” e, por outro, que “a qualidade
dos materiais recicláveis seja melhorada”.
in Água&Ambiente Abril 2012
Produzidos em todos os estágios da actividade humana, os resíduos, em termos tanto de composição como de volume,
variam em função das práticas de consumo e dos métodos de produção. As
principais preocupações estão voltadas para as repercussões que podem ter sobre
a saúde humana e sobre o meio ambiente (solo, água, ar e paisagens). Os
resíduos perigosos, produzidos sobretudo pela indústria, são particularmente
preocupantes, pois, quando incorretamente utilizados, tornam-se uma grave
ameaça ao meio ambiente.
Classificação
dos resíduos
Quanto às
características físicas:
- Seco: papéis, plásticos, metais, couros tratados, tecidos, vidros, madeiras, guardanapos e tolhas de papel, pontas de cigarro, lâmpadas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças;
- Molhado: restos de comida, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados, etc.
Quanto à
composição química:
- Orgânico: é composto por pó de café e chá, cabelos, restos de alimentos, cascas e bagaços de frutas e verduras, ovos, legumes, alimentos estragados, ossos, aparas e podas de jardim;
- Inorgânico: composto por produtos manufaturados como plásticos, vidros, borrachas, tecidos, metais (alumínio, ferro, etc.), tecidos, lâmpadas, velas, parafina, cerâmicas, porcelana, espumas, cortiças, etc.
Quanto à origem:
- Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por restos de alimentos (tais como cascas de frutas, verduras, etc.), produtos deteriorados, jornais, revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiénico, fraldas descartáveis e uma grande diversidade de outros artigos. Pode conter alguns resíduos tóxicos;
- Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, tais como supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes, etc;
- Serviços públicos: originados dos serviços de limpeza urbana, incluindo todos os resíduos de varrição das vias públicas, limpeza de praias, galerias, restos de podas de plantas, limpeza de feiras livres, etc, constituído por restos de vegetais diversos, embalagens, etc;
- Hospitalar: descartados por hospitais, farmácias, clínicas veterinárias (algodão, seringas, agulhas, restos de remédios, luvas, curativos, sangue coagulado, órgãos e tecidos removidos, meios de cultura e animais utilizados em testes, resina sintética, filmes fotográficos de raios X). Em função de suas características, merece um cuidado especial em seu acondicionamento, manipulação e disposição final. Deve ser incinerado e os resíduos levados para aterro sanitário;
- Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes patogénicos. Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e restos de alimentos, que podem hospedar doenças provenientes de outras cidades, estados e países;
- Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como: o metalúrgico, o químico, o petroquímico, o de papelaria, da indústria alimentícia, etc. O lixo industrial é bastante variado, podendo ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas. Nesta categoria, inclui-se grande quantidade de lixo tóxico. Esse tipo de lixo necessita de tratamento especial pelo seu potencial de envenenamento;
- Radioativo: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de atividades com urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser manuseados apenas com equipamentos e técnicas adequados;
- Agrícola: resíduos sólidos das atividades agrícola e pecuária, como embalagens de adubos, defensivos agrícolas, ração, restos de colheita, etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento especial;
- Entulho: resíduos da construção civil: demolições e restos de obras, solos de escavações. O entulho é geralmente um material inerte, passível de reaproveitamento.
Quando
se fala em meio ambiente, as empresas (principalmente a nível industrial)
pensam imediatamente em custo adicional. Desta maneira passam despercebidas as
oportunidades de uma redução de custos. Sendo o meio ambiente um potencial de
recursos ociosos ou mal aproveitados, a sua inclusão no horizonte empresarial
pode resultar em atividades lucrativas ou, pelo menos, em poupança de energia
ou de outros recursos naturais.
Neste
sentido, para proporcionar o bem-estar da população, as empresas necessitam de
empenhar-se na manutenção de condições saudáveis de trabalho, segurança e,
contenção ou eliminação dos níveis de resíduos tóxicos, decorrentes do seu
processo produtivo e do uso ou consumo de seus produtos, de forma a não lesar o
meio ambiente.
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