quarta-feira, 18 de abril de 2012

21 de Fevereiro de 2010 – Temporal na Região Autónoma da Madeira


O povoamento na Região Autónoma da Madeira foi iniciado junto à foz das ribeiras, locais onde foram edificados as primeiras igrejas e habitações. Não se adivinha inicialmente que periodicamente ocorriam tempestades que engrossariam os caudais das ribeiras e poderiam até transbordar e inundar as edificações.
Vários casos ocorreram ao longo dos anos em 1724 , 1765, 1803, 1815, 1842, 1848, 1859, 1876, 1895, 1901, 1920, 1993 , 2001 e por ultimo o famoso 20 de Fevereiro de 2010. Contundo, isto não pareceu assustar suficientemente o governo regional pois continua-se a construir edifícios junto ás ribeiras e até por cima das mesmas como é o caso recente do centro comercial Dolce Vitta ou o edifício das Minas Gerais, estrangulando-se os seus leitos. A verdade é que estes leitos quando obstruídos podem ser um enorme perigo para as populações e para o meio ambiente porque os cursos de agua sofrem desvios, diminuição dos seus leitos e obstrução de alguns espaços. Constatou-se que 67% das ribeiras encontram-se com obras e somente 33% encontram-se sem obras.
Na Madeira não existem lagos nem rios, sendo as ribeiras as únicas zonas húmidas com a presença de agua doce que permitem o desenvolvimento de um ecossistema próprio com as respectivas espécies, notando-se assim a relevância em preservar este mesmo ecossistema. É chocante o contraste existente entre as ribeiras que se situam na zona norte da Ilha pela limpeza das suas aguas e pureza com as ribeiras situadas no centro da cidade pela quantidade de lixo nelas depositado tornando as aguas poluídas e tornando a vida insustentável para muitas espécies nelas residentes. Podemos constatar que existem vários tipos de resíduos nas ribeiras : lixo domestico, terras, entulhos e monstros fazendo com que apenas 6% das aguas se encontrem limpas.
Estes ecossistemas deviam possuir uma maior protecção e atenção por parte da população numa perspectiva de ordenamento do território como locais privilegiados para o desenvolvimento de zonas verdes.
Note-se contundo que as tempestades nomeadamente o 20 de Fevereiro não foram causadas exclusivamente nem essencialmente pela artificialização das ribeiras e poluição mas antes pela intensidade da precipitação conjugadas com a orografia da ilha que contribui para aumentar os efeitos da catástrofe. Mas não se poderá negar que erros de planeamento urbanístico tais como estreitamento de leitos das ribeiras e a construção legal ou ilegal dentro ou muito próximo dos cursos de agua tenha contribuído para o agravamento da catástrofe.
Nomeadamente o partido politico CDU-Madeira, recorreu á procuradoria geral da republica para apurar responsabilidades criminais dos governantes pelas mortes ocorridas no 20 de Fevereiro, pois compete ao governo proteger zonas marcadas por riscos desta natureza.
Embora nos primórdios da história o meio ambiente fosse visto antes como um bem á disponibilidade do Estado, que este poderia utilizar, hoje o meio ambiente é um bem de uso comum e ao Estado cabe antes preserva-lo podendo ser responsabilizado por eventuais danos. Como sabemos a nossa Constituição ocupa-se das questões ambientais tanto numa perspectiva subjectiva, como direitos fundamentais, como numa perspectiva objectiva enquanto bens jurídicos que impõem tarefas estaduais. Falou-se em responsabilidade funcional por parte do Estado uma responsabilidade objectiva por dano ambiental nomeadamente por omissão da protecção devida ás ribeiras da Madeira. Contundo a Procuradoria Geral da Republica não acudiu esta ideia pois considerou que não havia nexo de causalidade suficiente, pois a tempestade do 21 de Fevereiro não foi como já vimos exclusivamente causada pelo mau ordenamento do território. Raimundo Quintal reconhecendo a não exclusividade da culpa considera contudo lamentável não ter havido qualquer consequência para os governantes alertados inúmeras vezes pela população e pelos engenheiros do ambiente para o possível transbordar das ribeiras, e ainda assim estrangulando cada vez mais os seus leitos.

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