segunda-feira, 2 de abril de 2012

A Grande Muralha (Verde) de África



Um estudo que recorreu à Avaliação do Ciclo de Vida para determinar o impacto das actividades humanas no solo concluiu que oito das 15 regiões testadas apresentam risco de desertificação, com o Mediterrâneo a obter um valor de 6.3 numa escala de 0 a 10.A desertificação é um fenómeno de degradação do solo que envolve processos de aumento da aridez, erosão, sobre-exploração dos aquíferos e aumento do risco de incêndio. Usando estes descritores, investigadores da Universidade Autónoma de Barcelona e da Universidade Tecnológica de Mendoza, na Argentina, determinaram os impactos das actividades humanas em 15 eco-regiões avaliando o seu risco de desertificação. Para tal, os cientistas recorreram à Avaliação do Ciclo de Vida - uma metodologia que faz uma análise tendo em conta tudo desde a extracção das matérias-primas até ao destino dos resíduos - a que associaram um Sistema de Informação Geográfica. Os resultados revelam que as zonas com maior risco de desertificação a nível mundial são as zonas desertas subtropicais como o Norte de África, os países do Médio Oriente, a Austrália, o Sudoeste da China e o extremo Ocidental da América do Sul, às quais foi atribuído um valor de 7.6. O Mediterrâneo e as estepes tropicais e subtropicais também apresentam um risco considerável – 6.3 – ao passo que as áreas costeiras e as pradarias, os ecossistemas são os menos ameaçados, com um valor de apenas 4.  
         É então neste sentido, e para evitar o avanço da desertificação no norte africano, que surge o projecto da Grande Muralha verde de África, um projecto apoiado pela União Africana e cujo fito é ligar – através de um cordão arborizado com 15km de largura e 7775Km de comprimento - o Senegal, no oeste do continente africano, ao Djibuti, na África Oriental. A “Grande Grande Muralha Verde” será constituída por espécies arbóreas adaptadas à seca e, sempre que possível, nativas dos onze países que atravessaria. Segundo o governo senegalês, mentor e entusiasta do projecto, as árvores contribuem para atrasar a erosão do solo, diminuir a velocidade dos ventos, promover a infiltração da água e ao enriquecer os solos, garantir a subsistência das populações locais que dependem da criação de gado e da agricultura.
O Fundo Mundial para o Ambiente (Global Environment Facility) já garantiu 115 milhões de dólares, enquanto outras organizações de desenvolvimento prometeram somas que poderão totalizar até 3 mil milhões de dólares. Os proponentes deste projecto massivo dizem que o mesmo tem igual importância para a mitigação da pobreza na região como para a protecção ambiental. Ficam igualmente assegurados a plantação e o desenvolvimento integrado de espécies de plantas resistentes à seca com interesse económico, de lagos de retenção de água e de sistemas de produção agrícola e de outras actividades geradoras de receita, bem como de infra-estruturas sociais básicas.
É claro que o projecto enfrenta muitos desafios. Utilizar variedades resistentes à seca é um dos maiores e o projecto tem servido como campo de testes para experiências feitas por laboratórios estrangeiros que trabalham nesse sentido . A outra dificuldade é de ordem política. 11 países africanos precisam de concordar e trabalhar em harmonia para que a ideia funcione, sendo que autoridades e especialistas por todo o mundo estão atentos ao projecto que bem pode servir de piloto para outras regiões do globo que enfrentam problemas análogos.
Aplicando uma solução tecnológica assaz simples de plantação de árvores, a grande muralha tem avançado a par e passo desde que começaram os seus trabalhos, em 2010, mostrando já resultados concretos. Este é um projecto de proporções verdadeiramente épicas que atravessa um continente inteiro e que demonstra bem que por vezes é necessária a intervenção do homem na Natureza por forma a encontrar soluções viáveis, equilibradas e acima de tudo numa óptica de plena sustentabilidade.

A baixo fica um vídeo bastante elucidativo sobre este projecto: 


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