abril 04, 2012 Eliel Matias da Rosa
Para os 1.500 cientistas e especialistas que elaboraram o relatório
Avaliação Global da Biodiversidade, divulgado pelo Programa das Nações Unidas
Para o Meio Ambiente (PNUMA), os seres humanos são a principal causa da perda crescente
da biodiversidade mundial. Devido à mudança ou perda de habitats já ocorridas
em todo o mundo, dezenas de milhares de espécies caminham para a extinção, sem
possibilidade de qualquer ação preventiva.
Segundo o
relatório, mesmo que outras espécies ameaçadas não sejam extintas, muitas delas
irão perder populações ou sofrer graves perdas do seu potencial de
variabilidade genética devido ao colapso ou à perda de habitats. Desde 1700, as
terras para agricultura cresceram cinco vezes, e desde 1800, as plantações
irrigadas aumentaram 24 vezes. A Mata Atlântica, ecossistema que só existe no
Brasil e detém a maior biodiversidade do planeta por hectare, foi reduzida a
aproximadamente 8% de sua área original.
Ainda
segundo o relatório, a diversidade biológica da Terra é composta, hoje, de 13 a
14 milhões de espécies, das quais apenas 1,7 milhão, ou 13% encontram-se
descritas cientificamente. E, mesmo desse pequeno percentual, a maioria nunca
teve sua situação completamente levantada. Apesar disso, estamos destruindo a
biodiversidade do planeta a taxas aceleradas e sem precedentes. De 1810 até
agora, o número de espécies de mamíferos e aves extintas – 112 no total –
superou em quase três vezes o que se perdeu entre ao anos de 1600 e 1810 – 38
espécies. O Brasil ocupa uma posição estratégica em termos mundiais devido à
sua incomparável e rica biodiversidade.
Se por um
lado temos uma natureza exuberante, por outro carecemos de investimentos em
pesquisa e na formação de mão-de-obra e estruturas que permitam o adequado
aproveitamento e até mesmo a compreensão desta riqueza, o que nos tem conduzido
a um tipo de garimpo muito mais predatório que o do ouro ou qualquer outro
metal. O garimpo genético. Sem uma base legal adequada, o Brasil tem permitido
que o saber dos índios e populações tradicionais sobre a biodiversidade seja
apropriado por terceiros, sem que estes povos ou o próprio país receba uma
contrapartida pelo uso dessa biodiversidade. O correto é que o conhecimento
destes povos fosse respeitado e remunerado adequadamente e que as comunidades
participassem conjuntamente dos projetos de pesquisa.
Existe,
hoje, no mundo, uma verdadeira guerra silenciosa dos países ricos, que detém a
tecnologia contra os países pobres ou em desenvolvimento, que detém a
biodiversidade. Durante a RIO 92 esse conflito ficou bem claro e os EUA
simplesmente recusaram-se a assinar o tratado da Biodiversidade, enquanto não
se reconhecesse sua propriedade sobre o conhecimento genético que possui de
plantas e animais de outros países que, desnecessário dizer, foram retirados
desses países sem seu consentimento, sem qualquer remuneração sobre as espécies
ou sobre o saber dos povos tradicionais. A biodiversidade ficou assim reduzida
à condição de armazém de fragmentos genéticos, transformados pelos laboratórios
em mercadorias comercializáveis.
Mais que a
simples apropriação de uma espécie de planta ou bicho, é a apropriação privada
da vida, que assume um valor monetário. Talvez o mais difícil seja compreender
que nossa espécie não é a dona do planeta, não pode fazer com a natureza o que
quiser. Por mais especial que nossa espécie possa parecer, ela não é mais
importante que qualquer outra, já que, na natureza, tudo está interrelacionado,
“o que fere a Terra, fere também os filhos da Terra”, como já afirmou o cacique
Seatle, em 1855, antes de inventarem o termo ecologia. Não podemos usar e
abusar do planeta, sem sofrer as conseqüências.
Por:
Vilmar Berna
Crítica: O capitalismo descontrolado está definitivamente extinguindo
a biodiversidade do planeta em todo o seu prisma. Ao analisarmos as principais
faces do meio ambiente como parte da sociedade, podemos facilmente apontar os
maiores problemas que enfrentamos na nossa realidade e que tendem a se tornar o
caos da humanidade se nada agora for feito. Pode-se iniciar a análise pela face
econômica, a qual hoje é a que mais se sobressai quando se discute o tema em
voga sustentabilidade + ecologia. Parece-me que as necessidades atinentes às
mudanças estruturais e materiais para a preservação do meio ambiente, em 99% das
vezes, são vistas apenas pela face econômica, deixando de focar, erroneamente,
o verdadeiro proposito pelo qual se deve mudar a atitude da sociedade. Tudo
virou comércio. Ao pararmos para analisar todas as medidas que foram tomadas em
prol do meio ambiente, todas tem caráter econômico ou tributário e muito pouco
educativo. Pode-se tomar como exemplo a temática dos sacos plásticos. Para a
maior parte dos cidadãos, não usar saco plástico é questão de economia de
alguns cêntimos e não uma medida para ajudar o planeta. A relevância desse
problema que enfrentamos se dá pela falta de uma base sócio-educativa somada a
uma efetiva base legal a fim de viabilizar a educação e consequentemente o
salvamento do nosso planeta. Muito se discute acerca do meio ambiente, do que é
bom ou ruim, coloca-se em prática o que traz retorno financeiro ou tributário,
mas não há uma cidadania para com o meio ambiente. Muito ainda precisa ser
feito, seja nos países desenvolvidos, seja, principalmente nos países
subdesenvolvidos. O boom populacional que vem passando o planeta já irá prejudica-lo
quanto à insuficiência de recursos naturais, imagine se não houver um aparato
educativo para frear os prejuízos? Cabe ao direito também estruturar a sociedade com leis que não tenham apenas cunho tributário, mas também sociais (lê-se como todos os direitos fundamentais), aprimorando a cidadania de crianças e adultos. Se há
direito, há direito ambiental.
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