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Golfinhos voltam a ser avistados no Tejo
Grupo de golfinhos da espécie roaz-corvineiros - a mais conhecida do Mundo - continua a visitar o Tejo, sinal de que a poluição está a diminuir no rio. Veja as fotos.
Diana Martins (www.expresso.pt)
18:00 Segunda feira, 27 de fevereiro de 2012
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O grupo é o mesmo que foi avistado no verão do ano passado
Paulo Andrade (engenheiro da Associação Náutica da Marina do Parque das Nações)
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Há muitos anos que se tinha tornado um fenómeno invulgar avistar golfinhos no Tejo, o que não é de admirar, já que os esgotos de mais de 100 mil lisboetas corriam diretamente para o rio. Agora, é a segunda vez em menos de um ano que se regista a sua presença, consequência da despoluição do estuário.
Os exemplares da espécie roaz-corvineiro - também conhecida como o golfinho Nariz de Garrafa - foram avistados no início do mês. As fotos que registaram o momento mostram o grupo junto a Cacilhas.
Já no no verão passado um grupo de vinte golfinhos foi visto no rio. Segundo Nuno Sequeira, presidente da Quercus, é provável que este pequeno conjunto de roaz-corvineiros faça parte desse mesmo grupo. "Esta espécie já viveu no Tejo no passado. Nos últimos dois anos têm sido registados vários avistamentos, como aconteceu em julho de 2011, e que se podem tornar cada vez mais comuns", afirmou o presidente da Associação Nacional de Conservação da Natureza.
"Apesar de não existirem dados concretos", a melhoria da qualidade da água parece ser a principal razão para o regresso dos golfinhos ao estuário do Tejo. "Com a construção de algumas ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais), como a de Alcântara, e deslocação de indústrias pesadas na Margem Sul, a qualidade da água tem vindo a melhorar", explica o mesmo ambientalista.
Menos poluído, o rio é assim um lugar com mais alimento para esta espécie de golfinhos comuns. Residentes nas águas costeiras do Oceano Atlântico, os golfinhos deslocam-se aos estuários apenas para se alimentarem. Os roaz-corvineiros comem peixe, crustáceos e bivalve, ingerindo cerca de 10 a 15 Kg de alimento diário.
Antes de proceder a uma breve análise crítica da notícia publicada pelo Expresso, cabe fazer um enquadramento geral do problema que aqui é colocado. O Rio Tejo é o maior rio da Península Ibérica, nasce em Muela de San Juan, na Serra espanhola de Albarracin, a 1953 metros de altitude, e a sua bacia hidrográfica com 8100 Km2 corresponde quase à superfície de Portugal continental. Com a forte industrialização em redor das margens do mesmo, em especial no Barreiro, Seixal, Alcochete, Montijo e na bacia hidrográfica do Rio Trancão; a não construção de ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) para o tratamento de águas contaminadas e o seu directo despojamento no Rio Tejo contribuíram para que diversas espécies de fauna e flora não pudessem subsistir devido às péssimas condições da água (muito poluída) do rio, tendo desaparecido, bem como o próprio cenário do rio Tejo como estância balnear (o que, anteriormente, era uma realidade) não passasse, hoje, de uma miragem.
De entre as várias zonas industriais poluidoras, é de destacar a bem conhecida (mas pelos piores motivos!) bacia hidrográfica do Rio Trancão, localizada numa vasta área de elevada concentração populacional e industrial, onde se destacam matadouros industriais, instalações agro-pecuárias de grandes dimensões, lagares de azeite, indústrias químicas de detergentes, indústrias químico-farmacêuticas, curtumes, fábricas de margarinas, fábricas de lanifícios, indústria de pasta de papel, indústria de mármore, indústria de vinho, preparação de superfície metálicas, metalurgia, entre outras. Em toda a bacia hidrográfica, as principais fontes poluidoras de origem industrial em termos das cargas de poluição, são as alimentares e bebidas, seguidas da química e produtos metálicos. Sendo que este tipo de indústrias origina efluentes altamente contaminados, caracterizados genericamente por elevados teores em matéria orgânica, óleos e gorduras, sulfatos e metais pesados. Nestas circunstâncias, a linha de água do Rio Trancão, em termos de níveis de poluição das suas águas, pode classificar-se como um esgoto a céu aberto, condicionando de forma altamente negativa a qualidade da água do Estuário do Tejo.
No entanto, em face das orientações nacionais (nomeadamente, o Decreto - Lei 236/96 de 1 de Agosto) e comunitárias relativas à protecção do ambiente e do tratamento de águas residuais e com a mais recente construção de mais ETAR, é previsível que nas próximas décadas, as águas do Rio Tejo melhorem a sua qualidade significativamente. O esforço de consciencialização de uma comunidade acerca da existência dos danos ambientais como sendo danos reais e o alerta de que é necessário que sejam tomadas medidas agora para que o amanhã das gerações vindouras possa existir; começa a dar os seus frutos. É a chamada: Educação Ambiental.
E ainda que os golfinhos só estejam de passagem e não permaneçam, por agora, no Rio; este é um sinal de que as políticas ambientais quando definidas e efectivamente aplicadas e quando se investe na educação ambiental, é sob a forma deste tipo de notícias que os resultados positivos se vão deixando, aqui, fotografar.
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