segunda-feira, 9 de abril de 2012

O Caso Fukushima
Energia Nuclear: Bem-me-quer, Mal-me-quer?

Japão: 900 soldados para descontaminar edifícios em Fukushima
O Governo japonês aprovou, esta terça-feira, o envio de 900 soldados das Forças de Autodefesa (exército) para descontaminarem a partir de quarta-feira os edifícios municipais na zona de exclusão nas imediações da central nuclear de Fukushima. As tropas, que contarão com uma unidade química especializada em radiação, irão encetar a operação de descontaminação durante duas semanas em dependências das cidades de Namie, Tomioka e Narha, cujos centros urbanos distam a sete, nove e 16 quilómetros da central nuclear, refere um despacho da agência Kyodo.
Após o processo de descontaminação, os edifícios vão ser utilizados como base de operações para, em Janeiro, iniciar um exaustivo trabalho de descontaminação nas zonas adjacentes à central, fortemente danificada pelo sismo e tsunami de Março. A operação dos militares é a primeira tarefa de limpeza da zona de exclusão criada em volta da central num raio de 20 quilómetros devido aos elevados índices de radioactividade.
A crise na central de Fukushima Daiichi, a pior em 25 anos após Chernobil, obrigou à retirada de 80 mil pessoas que residiam em volta da central e gerou elevadas perdas nos sectores agrícola, pescas e criação de gado.
Nas últimas semanas, as análises em vários centros agrícolas de Fukushima revelaram níveis excessivos de césio nas plantações de arroz, o que levou as autoridades a proibir a sua venda e distribuição com origem em 4500 plantações da província.
Antes de Fukushima, a energia nuclear era responsável por 30% da electricidade no Japão.

Noticiado pelo Jornal de Notícias a 6 de Dezembro de 2011


O Japão, no dia 11 de Março de 2011 tinha, activadas, cerca de cinquenta e quatro centrais nucleares, sendo uma delas a Central Nuclear de Fukushima I. Uma avaria no sistema de refrigeração, provocada pelo maremoto acorrido nesse mesmo dia e o consequente corte de energia eléctrica, culminaram numa explosão cujo único precedente, até àquele dia, tinha sido o desastre de Chernobyl. O agora denominado, Desastre de Fukuhsima, veio reacender a discussão acerca das vantagens e perigos na utilização da energia nuclear e respectivas consequências.

Energia Nuclear: Origens
A energia nuclear consiste no uso controlado das reacções nucleares para a obtenção de energia com a finalidade de realizar: movimento, calor e electricidade. A reacção nuclear é a modificação da composição do núcleo atómico de um elemento, podendo transformar-se em outro ou em outros elementos. É uma energia não-renovável, visto que, a sua matéria-prima é o urânio, sendo este um recurso natural de quantidades finitas no Mundo.
A fissão nuclear do urânio consiste na principal aplicação da energia nuclear. É usada em centenas de centrais nucleares em todo o mundo, principalmente em países como o Japão, a França, Japão, Estados Unidos, Alemanha, Brasil, Suécia, Espanha, China, Rússia, Coreia do Norte, Paquistão e Índia, entre outros.

(Des) Vantagens?
O desastre nuclear ocorrido em Fukushima faz-nos repensar e problematizar as questões subjacentes às utilidades da energia nuclear, mais do que tudo, estaremos de facto prontos para pagar o preço da utilização deste tipo de energia? E se esse preço for a contaminação de recursos naturais, a mutação dos genes daqueles que estiveram expostos e suas consequências?
De forma sumária, é necessário então contrapormos vantagens e desvantagens na utilização de energia nuclear. Começando pelas vantagens:
·         A principal vantagem da energia nuclear obtida por fissão é a não utilização de combustíveis fósseis. É um combustível mais barato que muitos outros como por exemplo o petróleo, o consumo e a procura ao petróleo fez com que o seu preço disparasse, fazendo assim, com que o urânio se tornasse um recurso, comparativamente com o petróleo, de baixo custo;
·         É uma fonte mais concentrada na geração de energia, um pequeno pedaço de urânio pode abastecer uma cidade inteira, fazendo assim com que não sejam necessários grandes investimentos no recurso ( o urânio);
·         É uma fonte de energia segura, visto que até a data só existiram dois acidentes mortais;
·         Permite o aumento de competitividade;
·         A energia nuclear passou a ser gradualmente defendida por ecologistas precisamente por não gerar efeitos de estufa ou chuvas ácidas.
As desvantagens:
·         É energia não renovável, como referido anteriormente, torna-se uma das desvantagens, visto que o recurso utilizado para produzir este tipo de energia se esgotará futuramente;
·         As elevadas temperaturas da água utilizada no aquecimento causa a poluição, pois esta é lançada nos rios e nas ribeiras, destruindo assim ecossistemas e interferindo com o equilíbrio das mesmas.
·         O risco de acidente, visto que qualquer falha humana, ou técnica poderá causar uma catástrofe sem retorno.
·         A poluição radioactiva: formação de resíduos nucleares perigosos e a emissão causal de radiações são um dos principais inconvenientes desta energia, visto que actualmente não existem planos para estes resíduos, quer de baixo ou alto nível de radioactividade, estes podem ter uma vida até 300 anos após serem produzidos podendo assim prejudicar as gerações vindouras.
·         É uma energia dispendiosa, visto que, tanto o investimento inicial, como posteriormente a manutenção das energias nucleares são de elevados custos, até mesmo o recurso minério, visto que existem países que não o possuem, ou não em grande abundância, tendo assim, que comprar a países que o possuam.

Os princípios da prevenção e do desenvolvimento sustentável dizem-nos que, outrora, a energia nuclear foi um investimento que permitiu ao Homem recuperar algum ‘tempo perdido’ face à degradação ambiental que até então tinha ocorrido. É inegável que a energia nuclear é uma fonte de energia limpa, ao contrário de um combustível fóssil que concorre para a intensificação do efeito de estufa, a poluição do ar, a ocorrência de chuvas ácidas, etc.; é uma fonte de produção de electricidade relativamente segura; é um instrumento de poder entre relações entre países; é também inegável que a produção de energia nuclear, em países como Japão, um país vulgarmente caracterizado como sendo pobre em recursos naturais, tendo um clima pouco estimulante ao desenvolvimento de pluralidades de espécies alimentícias, a própria composição das ilhas é pouco apta ao crescimento e desenvolvimento fértil das mais variadas espécies de fauna e flora, deu a oportunidade a este país de uma sustentação autónoma. Ainda que admitamos que todos estes factores são reais e que as vantagens são muitas, a energia nuclear tem consequências ambientais gravosas para a saúde do planeta e para o próprio ser humano. De que forma? Um acidente numa central nuclear equivale a incontáveis anos de destruição ambiental, a gerações de pessoas e animais, que estando expostas à radiação. Nos seres vivos os efeitos causados pela exposição a radioactividade manifestam-se a dois níveis:
- Nível somático, cuja expressão máxima é a morte;
-Nível genético, que é responsável pelo aumento de mutações, podendo assim originar aberrações genéticas nas gerações posteriores.
Estes efeitos dependem da natureza da radiação, do seu tempo de vida, da intensidade e dos órgãos onde esta é acumulada. Existem partículas que só se tornam prejudiciais se entrarem directamente no organismo, normalmente por via da alimentação ou pelo ar que respiramos. Quando uma radiação incide num tecido biológico, altera as características químicas das moléculas destes, que ou matam a célula ou originam divisões nesta, não controláveis. No primeiro caso o organismo elimina e substitui as células mortas, mas no segundo caso na maioria dos casos acaba por se gerar tumores malignos. Devido a estas reacções é que e tão perigoso e temido os acidentes nucleares.
O tema da energia nuclear daria para longas e complexas discussões mas após uma evolução na consciencialização da sociedade e numa certa awareness para os problemas ambientais causados pela utilização de energias não renováveis, podemos dizer hoje e após o desastre de Fukushima ter acontecido, que o caminho para a prevenção de todos estes problemas passa pela utilização de energias renováveis, mais seguras, de duração quase ilimitada e verdadeiramente ecofriendly.

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