Electricidade: Portugal com 130 mil
empregos em risco nas renováveis
O presidente do consórcio Eólicas de Portugal (ENEOP), responsável
pela instalação de 1200 MegaWatts (MW) de potência eólica no país, afirmou
ontem que estão em risco 130 mil empregos que poderiam ser criados na área das
renováveis, porque a actividade nacional está parada. “Nesta altura, em
Portugal está a desinvestir-se, quando o resto do mundo está a investir nas
energias renováveis. Estamos em contraciclo”, apontou Aníbal Fernandes,
citado pela agência Lusa.
Em causa,
afirmou, estão empregos directos e indirectos na fileira das renováveis,
sobretudo hídricas e eólicas, face à “paragem” da actividade, nomeadamente com
a revisão de incentivos, taxas e tarifas anunciada pelo governo. “Estamos a
falar de fábricas de aerogeradores que empregam muita gente, da construção de barragens,
da projecção e da gestão de parques, entre outros”, disse, à margem da visita
de um grupo de deputados do parlamento federal alemão às fábricas da Enercon em
Viana do Castelo.
Em
Portugal, o consórcio ENEOP realizou um investimento de 188 milhões de euros em
novas unidades industriais, lideradas pela alemã Enercon, número um na produção
de aerogeradores. Desde 2006, este consórcio, que junta empresas como a EDP e a
Finerge, criou 1930 postos de trabalho directos e 5 mil indirectos.
Por este
volume de investimento, o consórcio recebe 67 euros por cada MegaWatt hora
produzido nos respectivos parques. Na Alemanha, recordou Fernandes, esse valor
é de 96 euros, em Itália de 140 euros e na Bélgica de 120 euros. “A nossa
tarifa é a mais baixa de Europa. Contrariamente à cacofonia que algumas pessoas
querem instalar no país, porque têm agendas escondidas e são intelectualmente
desonestas”, criticou. “As tarifas que estão hoje em vigor e que algumas
pessoas criticam como o monstro eléctrico de Sócrates foram publicadas pelo
governo de Durão Barroso.”
Para o
presidente da ENEOP, o Estado tem agora de honrar os compromissos assumidos. “O
que queremos é que o valor da tarifa que nos foi consignada, num concurso legal
e transparente, nos seja garantido nos pontos de ligação à rede. Mais nada.” Apesar
da paragem nos financiamentos e na política de diversificação das fontes de
energias renováveis – que afirma estar a acontecer desde o Verão passado –,
o responsável admitiu que só foi possível manter os postos de trabalho através
do incremento das exportações, nomeadamente pela Enercon.
Esta notícia, publicada ontem na
edição online do jornal i, parece-me que comporta uma especial relevância para
a nossa disciplina no tocante às duas afirmações, por mim sublinhadas, do
presidente da ENEOP. (A noticia não se foca
directamente nestes aspectos, mas estes parecem-me especialmente pertinentes).
Da primeira afirmação, retira-se
que Portugal está neste momento a desinvestir nas energias renováveis, algo que
poderá parecer, numa primeira avaliação, a solução mais fácil no entanto e
fazendo uma analise mais profunda da questão, parece-me que na situação de
crise que vivemos a aposta devia ser precisamente a inversa, de modo a que se
reduzisse a dependência energética externa, algo que neste momento condiciona o
nosso “restabelecimento económico”.
Por outro lado, e
avaliando agora a segunda afirmação do presidente da ENEOP, parece-me que a
aposta na diversidade de fontes energéticas renováveis, não deveria ser posta
em causa, pois Portugal apresenta-se como um pais com óptimas condições em
relação a um grande leque de fontes renováveis – sol, ondas, mares, entre
outros- pelo que deve ser feito um investimento o mais diversificado possível. Esta
parece-me ser a melhor solução, pois no caso de ocorrer algum problema em
alguma delas, a autonomia energética portuguesa nunca seria colocada em causa.
Também uma nota para o facto de, segundo o presidente da ENEOP, estarmos perante uma época de redução do financiamento. Relativamente a esta questão parece-me que temos de procurar novos investidores e devemos criar as melhores condições possíveis para a entrada de capitais estrangeiros no nosso país.
Deste modo, parece-me que
os dois aspectos tratados nesta noticia têm, para além de uma grande relevância
ambiental, uma muito grande importância económica, pelo que a questão, na minha
opinião, deve ser tratada com uma maior ponderação e não permitindo apenas uma
satisfação a curto prazo, pois esses casos são normalmente avessos ao
desenvolvimento e ao progresso.
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