Uma Iniciativa que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian
A crise económica
mundial apela a uma reflexão profunda e emergente sobre a mudança de paradigma
na definição de prioridades e nos comportamentos. A sociedade civil pode
assumir um papel fundamental na procura de soluções possíveis, tanto ao nível
mais local como global. A Fundação Calouste Gulbenkian tem vindo a investir na
antecipação dos problemas que mais profundamente marcarão a nossa sociedade, na
promoção do debate informado sobre estes desafios, na experimentação a nível
local de novas soluções para aqueles problemas, na mediação do diálogo entre
organizações sociais e os vários sectores da sociedade, no reforço da
capacidade de atuação das organizações, na mobilização de parcerias e na
disseminação de boas-práticas.
Nesta linha, o Programa
Gulbenkian de Desenvolvimento Humano (PGDH) e o Programa
Gulbenkian de Ajuda ao Desenvolvimento (PGAD) organizaram este ciclo
de conferências sobre o futuro da alimentação e as suas implicações no
ambiente, na saúde e na economia, comissariado por José Lima Santos com a
colaboração de Isabel do Carmo e Pedro Graça. Foram convidados especialistas nas
diversas áreas-problema a partilhar com a sociedade os seus conhecimentos e
visão, no âmbito de um debate alargado e integrador que promova o diálogo
interdisciplinar e a emergência de novas visões. Em cada uma das sessões foram
e serão analisadas opções e escolhas possíveis e produzidas recomendações para
os diversos intervenientes: ciência e tecnologia, economia e mercados,
políticas públicas, consumidores, agricultores e indústria.
Hoje, dia 11 de
Abril, foi proferida uma conferência pelo Professor Tim Lang, professor de
Política Alimentar na City University, em Londres, com o título “É possível uma alimentação
saudável e simultaneamente sustentável?”. Do exposto retirou-se que no
século XX assistimos a profundas alterações na produção, processamento e consumo
alimentares, com a indústria alimentar dominada pela intensa procura por comida
mais barata, de melhor qualidade e em abundancia. Atualmente, o abastecimento e
o consumo alimentares enfrentam exigências mais complexas. A alimentação tem
que ser sustentável e acessível, além de saudável e socialmente justa.
Satisfazer esta combinação de requisitos é um problema para os decisores
políticos, relutantes em passar das orientações dietéticas, assentes na
nutrição, às baseadas na alimentação sustentável. A indústria, por sua vez,
quer que a deixem à vontade para orientar os preços em função da
"eficiência do mercado".
Esta palestra deu uma
visão geral sobre a dificuldade em conjugar a saúde dos seres humanos com a do
ambiente, a partir da alimentação. As sofisticadas análises que começaram a ser
produzidas são um desafio para as políticas publicas. O século XXI precisa de
políticas integradas, com medidas adoptadas a partir da reflexão, e não de
políticas segmentadas. Um dos principais problemas que surge é o das opções
dietéticas - poderá o mundo produzir alimentos a uma escala pantagruélica, para
se comer como nos EUA (como se houvesse cinco planetas) ou na Europa (onde
bastam três)? Não é de crer. Mas alguém se lembrou de avisar os consumidores
que a escolha ilimitada do seculo XX terminou? Conseguirão as indústrias de
abastecimento alimentar transformar-se, através do "processamento da
escolha" ["choice-editing"], antes das pessoas verem ou
consumirem os produtos? Ou terão os decisores que se associar ao grande poder
do consumismo? A palestra resumiu o que tem sido pensado sobre esta enorme área
de políticas, questionando sobre o que podem fazer a sociedade civil,os
governos, o comércio e os sectores profissionais.
Os textos das
comunicações feitas serão posteriormente editados em livro para quem se possa
interessar sobre o tema. A Agenda deste Ciclo de Conferências poderá ainda ser
consultada no sítio online da Fundação Calouste Gulbenkian para todos aqueles
que quiserem tomar parte nesta iniciativa.
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