terça-feira, 17 de abril de 2012


Telhados verdes para cidades saudáveis

As coberturas com jardins reduzem o calor e o consumo energético. E ainda absorvem a água das casas.
Os arquitectos chamam-lhe a quinta fachada dos edifícios e a tendência está a ganhar adeptos em Lisboa. Os telhados e coberturas das casas da capital começam a ser, também, espaços verdes. Por motivos arquitecturais, energéticos, ambientais e estéticos, colocar um relvado ou um jardim no topo das habitações começa a fazer sentido.

"As coberturas são cada vez mais importantes", afirma o arquitecto Manuel Salgado, vereador da câmara de Lisboa para o urbanismo e planeamento estratégico. "Em Lisboa, essa solução ganha uma importância ainda maior a nível estético". Estes pequenos pulmões podem mesmo servir como reguladores térmicos da cidade. Segundo Manuel Salgado, a opção "pode reduzir dois a três graus centígrados na temperatura das cidades". Sendo certo que não substituem os jardins, "permitem respiração e ajudam a diminuir o efeito de estufa".

Os chamados telhados verdes facilitam a circulação atmosférica, absorvem a água das chuvas e contribuem para uma redução do consumo energético devido aos seus poderes isoladores, e permitem ainda um isolamento acústico mais eficaz. Enquanto uma cobertura normal pode aquecer até aos 60 graus, uma com relvado chega apenas aos 25: a diferença reflecte-se na diminuição do uso de ar condicionado, na factura energética (redução de custos entre 20 a 30%) e na pegada ecológica.

A Weston Design Consultants concluiu num estudo recente que se todos os topos de casas de Chicago tivessem cobertura ajardinada, a cidade pouparia 72 milhões de euros em energia por ano.

O arquitecto Manuel Graça Dias considera que as camadas de terra têm um bom comportamento térmico, mas não identifica vantagens energéticas ou ambientais das coberturas verdes como mais relevantes. "A grande conquista é ganharmos um novo espaço", diz o arquitecto que faz parte do projecto de urbanização que partilha coberturas ajardinadas. "Já não precisamos de estar reféns da cobertura inclinada. É importante termos uma nova superfície, principalmente num clima tão agradável como o nosso."

O mais famoso e antigo exemplo das coberturas verdes são os Jardins Suspensos da Babilónia. Mas o primeiro arquitecto a utilizar coberturas ajardinadas nos seus edifícios foi Le Corbusier, no início do século 20: "Não seria ilógico deixar [estes] espaços urbanos sem utilização e ignorar o diálogo com as estrelas?"

Os telhados verdes tornaram-se verdadeiramente populares nos países do centro e do Norte da Europa. E a sua base de fãs tem crescido, nos últimos anos, na América Latina. Nos Estados Unidos encontra-se o exemplo actual mais emblemático das coberturas verdes: está no City Hall de Chicago.

Há, porém, quem considere que esta solução é desajustada para Lisboa. "Dirige-se mais para casas de campo. É preciso manutenção e gasta-se muito em água", argumenta Álvaro Martins, director do Centro de Estudos em Economia da Energia dos Transportes e do Ambiente. Da mesma opinião é o arquitecto António Ribeiro Telles: "Não resolve o problema das cidades. Só se servir para não ter de fazer tantos jardins a nível do solo. É um complemento, mas é preciso dinheiro." O elevado investimento necessário para construir coberturas ajardinadas é um dos principais argumentos contra esta solução paisagística.

Manuel Graça Dias entende que os investimentos dependem apenas dos jardins. "Há paisagistas que concebem jardins para serem quase auto-suficientes, com manutenção simples e barata. Já há mesmo à venda torrões de terra preparados para as plantas se renovarem a si próprias e sem manutenção." E Manuel Salgado diz que as vantagens superam as dificuldades: "Ganha-se conforto. Além disso, já há coberturas verdes em Lisboa sem grande manutenção. No novo Plano Director Municipal, um dos artigos já contempla descriminação positiva para estas soluções."

Em Portugal, exemplos como a Gulbenkian ou o Jardim das Oliveiras no Centro Cultural de Belém são projectos bem-sucedidos que convencem Manuel Salgado: "Este é o caminho a seguir."

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