Um dos vinhos
portugueses mais afamados e com uma auréola quase mítica é o denominado e
comumente conhecido por Carcavelos.
Produzido desde
tempos remotos e historicamente a partir dos vinhedos plantados em terras das
freguesias de Carcavelos, Parede, São Domingos de Rana e parte das freguesias
de Alcabideche e Estoril e de Oeiras e São Julião da Barra, Porto Salvo e parte
da freguesia de Paço de Arcos, pertencentes aos concelhos de Cascais e Oeiras, sofre
influência de um clima mediterrânico temperado, sem grandes oscilações de temperatura
devido à proximidade do mar, resultando num vinho licorosa de grande qualidade.
É, contudo, no
século XVIII que ganha a sua verdadeira expressão e grangeia o seu mais forte
reconhecimento. Muito fruto da intervenção e proteccionismo do Marquês de Pombal
e Conde de Oeiras, José de Carvalho e Melo, que o produzia na sua quinta de
Oeiras.
Nesta época o vinho
era exportado em volume considerável para Inglaterra, era adicionado aos lotes
do Vinho do Porto, como agente melhorador, e era servido e muito apreciado na Corte,
tendo chegado mesmo a ser enviado por D. José I como presente de estado à Corte
de Pequim.
Tão excepcionais
qualidades foram reconhecidas oficialmente em 1907 e confirmadas em 1908, através
da Carta de Lei de 18 de Setembro, na qual foram definidos os princípios gerais
da sua produção e comercialização, demarcando a região e conferindo-lhe o
direito à menção específica de “vinho generoso”.
Porém, tão grande
qualidade e reconhecimento não impediu que este produto singular tivesse estado
em risco de desaparecer por completo, fruto de um quase inconciliável contraponto
entre o mundo rural e a pressão urbanística vivida nas últimas décadas, em
particular a partir dos anos sessenta do século XX.
A grande procura de
habitação alternativa à capital, fez com que os concelhos vizinhos de Oeiras e
Cascais, e em particular as freguesias a que se encontra por lei confinada a
produção do Vinho de Carcavelos, assistisse a um crescente e acelerado
desenvolvimento urbanístico, com a procura desenfreada de terrenos para
construção.
Toda esta faixa
territorial que até então mantinha muito da sua ruralidade e ritmos de vida
própria, assistiu a uma transformação profunda da sua malha urbana e das zonas
de produção agrícolas tradicionais, que iam muito para além do Vinho de
Carcavelos, e nas quais se incluíam com uma forte preponderância a hortícola e cerealífera.
Por força de tão
grande e rápida transformação, com cedência do mundo rural à pressão urbana, o
Vinho de Carcavelos viu-se confinado a escassos hectares de plantação
existentes em pouco mais de duas ou três quintas existentes no concelho de
Cascais e na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras, em terras outrora
pertencentes ao Marquês de Pombal.
Depois da grande
ocupação dos terrenos com a construção e a expansão urbanística, começou a
sentir-se uma verdadeira necessidade de conciliar os espaços urbanos com
espaços verdes e com espaços de cariz genuíno e autêntico.
Neste sentido, as
próprias autarquias locais começaram a desenvolver esforços nessa medida, sendo
de realçar a intervenção que as câmaras municipais de Cascais e de Oeiras têm
desenvolvido nessa matéria, sendo de salientar as medidas de apoio à
conservação das áreas onde ainda hoje se continuam a colher as uvas que dão
origem ao tão precioso néctar Vinho de Carcavelos.
Em Cascais
lançam-se campanhas de apoio à produção e sensibilizam-se as populações e os
mais jovens, em Oeiras protegem-se e alargam-se as áreas de plantação,
remodelam-se instalações e adegas, divulga-se e sensibiliza-se, tudo numa
interacção saudável entre o mundo rural e o desenvolvimento urbano, tentando
colmatar assimetrias e prevenindo o futuro.
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