Qual o valor de uma Árvore ?
Um
programa desenvolvido em 2006 pela US Forest Service e a empresa
David Tree Expert Company de nome i-Tree, é um software
que permite calcular o valor económico de uma árvore ou de um
conjunto delas enquanto parte integrante de um terreno, uma cidade ou
um Estado. Se é verdade que os benefícios dados pelas árvores são,
por princípio, inestimáveis e intangíveis, por outro lado vem esta
ferramenta permitir avaliar de forma concreta qual a valorização
que estas espécies vegetais provocam num determinado espaço, bairro
ou urbanização. Este software parte da premissa de que mesmo não
sendo possível ou sequer viável atribuir um preço económico a uma
árvore, é possível atribuir-lhe um preço simbólico fazendo uma
avaliação e projecção do valor social que aquela(s) mesma(s)
árvore(s), por estar localizada em certo sítio, ser de certa
espécie ou ter determinada idade tem.
De
facto, o i-Tree tem vindo já a ser usado por inúmeras empresas,
organizações, estudantes e outras entidades, sendo disso exemplo o
estudo levado a cabo por Geoffrey Donovan e David Butry pela Pacific
Northwest Research Station que concluiu terem as árvores e a sua
localização grande influência nos preços praticados no mercado
imobiliário nos EUA bem como nos gastos eléctricos das populações.
Por exemplo, em Portland, constataram que a presença de árvores
aumentava o preço de venda dos imóveis em cerca de US$8870 (cerca
de 6.306,26 €). Constataram ainda que os habitantes de Sacramento
(capital do Estado da Califórnia, conhecida pelas temperaturas
elevadas e constantes durante todo o ano) que possuíssem nos seus
terrenos árvores que fizessem sombra sobre as paredes Sul e Oeste da
casa, viam a sua conta de electricidade diminuída em cerca de
US$25.16 (aproximadamente 17,89 €) em resultado de menor uso do
ar-condicionado.
Mas
os exemplos de utilização deste software revolucionário não ficam
por aqui. A National Football League dos EUA utiliza todos os anos o
i-Tree para conseguir prever quantas árvores terão de ser plantadas
nas cidades que acolhem a Super Bowl (o maior e mais popular evento
desportivo dos EUA no qual se disputa a Taça de Futebol Americano)
para assim poder neutralizar os danos ecológicos que esta venha a
causar.
Estes
sãos apenas alguns dos exemplos do que pode ser agora calculado e
planeado com esta nova ferramenta virtual uma vez que nunca esteve
tão alcançável e quase "tangível" a ideia de
poluidor-pagador.
Obviamente
que esta ideia pode levantar algumas dúvidas, desde logo se não se
estará a instrumentalizar as árvores, ou em sentido mais lato, o
ambiente, em prol da economia, isto é, até que ponto é que as
árvores de Portland terão maior valor, economicamente falando, que
outras situadas noutras localizações não tão interessantes para o
mercado imobiliário?
Ainda
numa linha crítica, poder-se-á levantar a questão de alguns
agentes poluidores começarem a utilizar este software como descargo
de consciência e, mais grave ainda como meio de
desresponsabilização, ao fim ao cabo avaliando qual o volume de
poluição ambiental que poderão provocar em determinado local sem
lhes poder ser imputada qualquer responsabilidade por danos
ambientais pois na verdade, a existência de danos é condição
"sine qua non" para que seja activado o instituto da
responsabilidade civil. Mesmo no campo ambiental, onde a ponderação
quantitativa dos danos é muito realizada preventiva e
prognosticamente, caso as empresas passem a utilizar este tipo de
softwares para provar que na verdade a sua actividade poluidora não
contribuiu para a descida dos valores económicos do ecossistema
circundante, ergo, não provocaram verdadeiros danos ao ambiente,
poderão facilmente encetar uma revolução na actual lei de
responsabilidade civil por danos ambientais (Decreto-Lei nº
147/2008, de 29 Julho), nomeadamente no que concerne à previsão de
responsabilidade objectiva para certas entidades, uma vez que este
diploma assenta em absoluto no pressuposto de haver um custo social
na poluição gerada por estes agentes.
Todavia,
a existência deste software deve entender-se no geral como positiva,
revelando-se uma importante ferramenta de estudos no foro ambiental
e, acima de tudo, um agitar de consciências na medida em que é
irrefutável o impacto de valores concretos, pecuniariamente
avaliáveis, numa sociedade profundamente integrada no sistema de
economia de mercado, dependente das actividades económicas, vítima
constante da lei da concorrência de quem quer fazer mais e mais
depressa, nem sempre necessariamente melhor, sociedade essa, logo,
inevitavelmente materialista.
Fonte
da notícia:
http://www.gizmag.com/i-tree-calculates-economic-value-of-trees/17317/
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