segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Valor Económico das Árvores




Qual o valor de uma Árvore ?



Um programa desenvolvido em 2006 pela US Forest Service e a empresa David Tree Expert Company de nome i-Tree, é um software que permite calcular o valor económico de uma árvore ou de um conjunto delas enquanto parte integrante de um terreno, uma cidade ou um Estado. Se é verdade que os benefícios dados pelas árvores são, por princípio, inestimáveis e intangíveis, por outro lado vem esta ferramenta permitir avaliar de forma concreta qual a valorização que estas espécies vegetais provocam num determinado espaço, bairro ou urbanização. Este software parte da premissa de que mesmo não sendo possível ou sequer viável atribuir um preço económico a uma árvore, é possível atribuir-lhe um preço simbólico fazendo uma avaliação e projecção do valor social que aquela(s) mesma(s) árvore(s), por estar localizada em certo sítio, ser de certa espécie ou ter determinada idade tem.
De facto, o i-Tree tem vindo já a ser usado por inúmeras empresas, organizações, estudantes e outras entidades, sendo disso exemplo o estudo levado a cabo por Geoffrey Donovan e David Butry pela Pacific Northwest Research Station que concluiu terem as árvores e a sua localização grande influência nos preços praticados no mercado imobiliário nos EUA bem como nos gastos eléctricos das populações. Por exemplo, em Portland, constataram que a presença de árvores aumentava o preço de venda dos imóveis em cerca de US$8870 (cerca de 6.306,26 €). Constataram ainda que os habitantes de Sacramento (capital do Estado da Califórnia, conhecida pelas temperaturas elevadas e constantes durante todo o ano) que possuíssem nos seus terrenos árvores que fizessem sombra sobre as paredes Sul e Oeste da casa, viam a sua conta de electricidade diminuída em cerca de US$25.16 (aproximadamente 17,89 €) em resultado de menor uso do ar-condicionado.
Mas os exemplos de utilização deste software revolucionário não ficam por aqui. A National Football League dos EUA utiliza todos os anos o i-Tree para conseguir prever quantas árvores terão de ser plantadas nas cidades que acolhem a Super Bowl (o maior e mais popular evento desportivo dos EUA no qual se disputa a Taça de Futebol Americano) para assim poder neutralizar os danos ecológicos que esta venha a causar.
Estes sãos apenas alguns dos exemplos do que pode ser agora calculado e planeado com esta nova ferramenta virtual uma vez que nunca esteve tão alcançável e quase "tangível" a ideia de poluidor-pagador.
Obviamente que esta ideia pode levantar algumas dúvidas, desde logo se não se estará a instrumentalizar as árvores, ou em sentido mais lato, o ambiente, em prol da economia, isto é, até que ponto é que as árvores de Portland terão maior valor, economicamente falando, que outras situadas noutras localizações não tão interessantes para o mercado imobiliário?
Ainda numa linha crítica, poder-se-á levantar a questão de alguns agentes poluidores começarem a utilizar este software como descargo de consciência e, mais grave ainda como meio de desresponsabilização, ao fim ao cabo avaliando qual o volume de poluição ambiental que poderão provocar em determinado local sem lhes poder ser imputada qualquer responsabilidade por danos ambientais pois na verdade, a existência de danos é condição "sine qua non" para que seja activado o instituto da responsabilidade civil. Mesmo no campo ambiental, onde a ponderação quantitativa dos danos é muito realizada preventiva e prognosticamente, caso as empresas passem a utilizar este tipo de softwares para provar que na verdade a sua actividade poluidora não contribuiu para a descida dos valores económicos do ecossistema circundante, ergo, não provocaram verdadeiros danos ao ambiente, poderão facilmente encetar uma revolução na actual lei de responsabilidade civil por danos ambientais (Decreto-Lei nº 147/2008, de 29 Julho), nomeadamente no que concerne à previsão de responsabilidade objectiva para certas entidades, uma vez que este diploma assenta em absoluto no pressuposto de haver um custo social na poluição gerada por estes agentes.
Todavia, a existência deste software deve entender-se no geral como positiva, revelando-se uma importante ferramenta de estudos no foro ambiental e, acima de tudo, um agitar de consciências na medida em que é irrefutável o impacto de valores concretos, pecuniariamente avaliáveis, numa sociedade profundamente integrada no sistema de economia de mercado, dependente das actividades económicas, vítima constante da lei da concorrência de quem quer fazer mais e mais depressa, nem sempre necessariamente melhor, sociedade essa, logo, inevitavelmente materialista. 

Fonte da notícia: http://www.gizmag.com/i-tree-calculates-economic-value-of-trees/17317/

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