quinta-feira, 10 de maio de 2012



FOGOS FLORESTAIS E OS EFEITOS
NA QUALIDADE DA ÁGUA

O fogo tem sido ao longo do tempo um factor natural determinante na diversificação das espécies vegetais, e consequentemente, no aumento da resiliência dos ecossistemas.
Nas últimas décadas os fogos florestais aumentaram consideravelmente na região mediterrânea, não só no seu número mas também na sua frequência, o que pode provocar a redução do tempo de recuperação das áreas ardidas e, consequentemente, alterar drasticamente o coberto vegetal, modificando e degradando as características destes ecossistemas.
De acordo com Juli G. Pausas e V. Ramon Vallejo, o aumento do número de fogos e da área ardida nos ecossistemas mediterrâneos resulta das alterações nos usos da terra (o despovoamento das zonas rurais tem aumentado, promovendo a acumulação de biomassa) e do aquecimento global, que segundo estes autores tem diminuído a humidade do material combustível, aumentado assim o risco de incêndio.

Em Portugal todos os anos as florestas Portuguesas são assoladas por fogos que as destroem e aos ecossistemas a elas associados. Nos últimos anos, verificou-se um aumento considerável da área ardida, destacando-se o Verão de 2003, um período particularmente dramático, tendo ardido uma área florestal de mais de 4000 km2 e o ano de 2005 em que arderam 336 497 ha (DGRF, 2003 e DGRF, 2005).
Para os anos de 2006, 2007 e 2008, observou-se uma diminuição substancial da área ardida. No ano de 2006 arderam 75 510 ha, no ano de 2007, 31 450 ha e até 30 de Setembro de 2008, a Autoridade Florestal Nacional (AFN), registou 12 861 ha de área ardida. De acordo com o Relatório Provisório de Incêndios Florestais, relativo ao ano de 2008 (AFN, 2008), a sensibilização junto das populações e os esforços de vigilância têm contribuído para uma redução no número de ocorrências.
As cinzas produzidas pelos fogos são constituídas por substâncias poluentes, como metais pesados, nitritos e outros produtos orgânicos menos comuns. Estas substâncias poluentes contaminam o ambiente (ar, solo, água) e têm um impacte não totalmente esclarecido na cadeia alimentar e na saúde dos seres vivos. As cinzas são transportadas como poluentes de escoamento de água à superfície ou são lixiviadas por águas de infiltração no solo e que mais tarde recarregam as águas subterrâneas (aquíferos). 

Efeito dos incêndios na qualidade da água

Um dos factores implícitos num incêndio é a temperatura que o solo da área afectada poderá alcançar, um fogo ao afectar a temperatura do solo, perturba a humidade deste e a consequente libertação dos nutrientes.
Um fogo volatiliza alguns químicos, levando a que, imediatamente, possam ocorrer várias consequências. Uma primeira pode ser a libertação destes químicos da vegetação existente, uma outra, que se pode verificar, é a mudança estrutural ou até mesmo a degradação (mineralização) como resultado directo da temperatura do incêndio.
 Um fogo de grande intensidade pode causar graves problemas de erosão no solo e problemas na qualidade da água. No artigo de Stevan R. Earl & Dean W. Blinn (2003) é explicado que fogos de intensidade moderada produzem, muitas das vezes, solos hidrofílicos e que, durante as chuvadas que se seguem ao incêndio, lençóis de água e partículas produzidas são lançadas para os canais de água.

Estudos feitos a origem das cinzas provenientes dos incêndios, indicam que estas produzem efeitos dramáticos na qualidade da água, num período curto de tempo, sendo os iões de amónia, nitratos, fosfato solúvel, potássio e a alcalinidade os mais afectados e que os impactos a curto termo de um incêndio florestal são observados, tanto imediatamente, como nos dias seguintes.
O autor Meixner, T (2004), após efectuar um estudo sobre os impactos que um fogo florestal tem em áreas imediatamente adjacentes aos incêndios, tanto a nível das propriedades químicas, como físicas da água, concluiu que, quanto aos impactos físicos na água, o aumento do fluxo de sedimentos após um incêndio traz impactos tanto na ecologia, como na água potável, uma vez que os reservatórios de água e as bacias poderão ser preenchidas, perturbadas e, portanto, danificadas pelos sedimentos.
Vários estudos indicam ainda que, após um incêndio florestal, os nutrientes provenientes da deposição das cinzas movem-se desde o solo até ao curso de água, quando se verifica um episódio de precipitação, com consequente enxurrada pela encosta ardida abaixo, e que tal acontece quando a capacidade de retenção da vegetação ou a capacidade de armazenamento dos nutrientes do solo, ou ambas, são insuficientes para reter a carga de nutrientes móveis para o solo.

Daqui resulta que os fogos florestais em Portugal continental são um motivo de preocupação, não só pela degradação dos ecossistemas florestais, da qual se destaca a redução do número de árvores de espécies autóctones como a Quercus suber (sobreiro), Castanea sativa (castanheiro), entre outras, mas também pelo seu potencial efeito negativo na qualidade das massas de água doce.

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