"O Plano de Pormenor da
Praia de Faro prevê a demolição de 185 casas na zona concessionada à autarquia.
De pé ficam apenas 80.
O Observatório do Algarve apurou
que o Plano de Pormenor elaborado para a zona da Praia de Faro desafetada do
Domínio Público Marítimo, área gerida pela Câmara Municipal de Faro, prevê que
apenas fiquem de pé 80 construções.
Na área a nascente da ilha e do
lado do mar, está prevista a demolição de 131 casas, ficando exclusivamente de
pé os três maiores edifícios.
Na área a poente, vão abaixo 54
construções, ficando de pé apenas cinco, três das quais são prédios de quatro
pisos. Entre os edifícios a demolir estão sinalizados os restaurantes Camané e
Paquete.
A estas demolições acrescem as
que já estavam previstas na zona de Domínio Público Marítimo, que são
consideradas construções clandestinas.
Estes números, apurados pelo
Observatório do Algarve, não foram confirmados pela Sociedade Polis Litoral da
Ria Formosa.
Valentina Calixto, presidente da
Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa apenas confirmou que o número de casas a
demolir já está apurado, todavia recusou-se a adiantar quantas são.
“Claramente que temos o número
identificado, mas o detalhe do projeto é que vai ajustar esse número”. A
responsável refere-se à construção de uma duna 'gigante' que visa proteger as
zonas lagunar e continental, como o aeroporto e a baixa da cidade de Faro, de
um possível galgamento do mar, em consequência de temporais.
“Não estamos a falar de uma
renaturalização total. Estamos a falar sim de uma zona de intervenção que
conflitua não só com a edificação, mas também com a estrada existente, ou seja,
vamos ter de relocalizar nalguns pontos a estrada”, sublinhou.
A presidente da Sociedade Polis
Litoral da Ria Formosa falou com o Observatório do Algarve à margem do encontro
“Conversas na Ria”, que decorreu no dia 3 de março, em Tavira.
Valentina Calixto explicou que o
risco existente naquela zona era conhecido, todavia os estudos efetuados no
âmbito da elaboração do Plano de Pormenor vieram a revelar que atinge "um
nível preocupante”.
“Os estudos, que estão concluídos
neste momento, adiantam que a Praia de Faro é uma área de grande risco de
galgamento, que em qualquer altura de grande tempestade poderá provocar danos
não só na ilha, mas no espaço lagunar e espaço continental envolvente”,
alertou.
A presidente da Sociedade Polis
acrescentou que a solução técnica proposta para reduzir o risco de galgamento
passa pela construção de uma duna em toda a extensão da Península do Ancão, o
que implica a demolição de construções existentes também na zona de desafetada
do Domínio Público Marítimo.
A duna terá “uma altura e uma
extensão para o lado do mar, por forma a criar robustez ao cordão dunar, que
permita que o mar encontre ali uma força que impeça que ele consiga destruir
toda a zona de ilha”.
Realojamento fora da zona desafetada
A presidente da Sociedade Polis
declarou também que, ao contrário do que estava previsto, o realojamento das
famílias com primeiras habitações na Praia não será feito na zona desafetada do
Domínio Público Marítimo.
“Preferencialmente pensava-se que
o realojamento das primeiras e únicas habitações da zona do domínio público
deveria fazer-se também na zona desafetada, mas por situações de risco o Plano
de Pormenor desaconselha isso”, disse e sublinhou que não será possível retirar
totalmente o risco daquela área, apenas minimizá-lo.
De acordo com Valentina Calixto,
as soluções serão encontradas em articulação com a Câmara Municipal de Faro,
entidade responsável pela gestão daquele território em particular.
Novos trabalhos ultrapassam orçamento
Os novos trabalhos programados
para a Praia de Faro vão ultrapassar o orçamento inicial numa verba que
Valentina Calixto estima que ultrapasse os 15 milhões de euros, quando o
inicialmente previsto rondava os 6 milhões de euros.
“Estamos a falar em relocalização
de infraestruturas, uma duna reconstruída, edificações algumas em que os lotes
foram vendidos e as casas construídas legalmente, há que indemnizar essas
habitações”, exemplificou.
Para já a responsável não
acredita que seja ultrapassado o prazo definido para a execução do Polis
Litoral da Ria Formosa, que deverá estar concluído até ao final de 2012, com
possibilidade de prolongar por mais 6 meses.
Contudo, Valentina Calixto
salienta que estão perante novas exigências e essa avaliação temporal só pode
ser efetuada com o avançar do projeto.
“O risco existia e era conhecido,
mas nunca pensámos que fosse necessária esta solução e tanta intervenção para
minimizar o risco”, concluiu".
Comentário
Não se pode deixar de ressalvar
que em certos casos, verifica-se a existência de um
conflito, entre um direito fundamental e outro interesse
constitucionalmente protegido, isto porque, a consagração do ambiente como um
bem jurídico-constitucional semeia o problema da sua harmonização com outros
valores e direitos reconhecidos também no corpo da Constituição, como por
exemplo, o desenvolvimento económico, a iniciativa económica e a propriedade
privada. Assim, há uma restrição do direito de propriedade quando a
Administração elabora um plano de demolições de casas construídas há vários
anos numa praia, tendo como motivação a protecção ambiental da mesma.
O caso da praia de Faro traduz o
conflito entre a prossecução do interesse público na vertente ambiental e o
direito de propriedade dos vários moradores da praia. O processo de demolições
nasce do risco, cada vez maior, de galgamento das águas, sendo que, cada
Inverno que passa a praia de Faro é assolada por temporais com um cordão dunar
a rebentar.
A grande questão que surge é
saber quais os critérios que irão assistir às demolições sendo que segundo o
Ministério, "a motivação do Ministério do Ambiente é fazer o devidamente
planeamento baseado em estudos científicos que apontam o melhor caminho e disso
não nos podemos desviar".
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