Cada um de nós
deve guiar a sua conduta tendo em conta uma forma humana de habitar o planeta
onde vivemos. Estamos numa época de fortes alterações climáticas, e não podemos
esperar pelas consequências que a acção humana poderá causar no ambiente. Não é
preciso chegarmos ao ponto de “ver para crer”. É preciso que a consciência
actue primeiro e se lembre de viver em paz com o ambiente. O que se discute
hoje já não é se o planeta está ou não a aquecer, mas sim se as águas vão subir
um ou cinco metros, em dez ou cinquenta anos, por hipótese. Parece que o que é
relevante é a que velocidade e a forma como aquece, e não o facto, já aceite de
estar a aquecer. A lógica de domínio e de controlo do tempo e da realidade que
ao longo da história temos vindo a construir parece sobrepor-se ao único
trabalho que podemos realmente fazer, que é: organizar a nossa interdependência
global e conferir sustentabilidade organizacional a um futuro que exige a
prossecução de interesses comuns. A partir do momento em que sabemos que entre
o espaço físico da crosta terrestre, o mar, a atmosfera e os seres vivos
existem essas profícuas e intricadas interligações que sustenam a vida e que
fazem o planeta funcionar como um único organismo vivo, tal facto transforma o
nosso conceito de vizinhança fronteiriça, em vizinhança global, uma vez que
todos somos funcionalmente dependentes de bens, sem exclusões de consumo e
todos podem afectar de forma positiva e negativa ao longo de várias gerações.
Está será segundo Kofi Annan a “tarefa fundamental” do séc. XXI: definir o
interesse comum, quem o defenderá, sob que autoridade e com que meios. Mas
então qual o problema
jurídico? O planeta encontra-se dividido em soberanias e respectivos domínios
delimitados por fronteiras, de zonas económicas exclusivas e espaços aéreos,
que as poluições atravessam, independentemente das linhas que traçamos nos
mapas, como é evidente. Às quais estão atribuídas dimensões jurídicas
necessárias para a organização interna dos grupos humanos, o problema surge quando
confundimos as nossas abstracções com uma realidade que é a biosfera regida por
leis que já existiam antes de nós existirmos e que em grande parte
desconhecemos. Isto para dizer que todos os estados estão em contacto directo
com partes que são insusceptiveis de divisão e apropriação jurídica, e que
circulam por toda o planeta: a atmosfera e hidrosfera. O problema não está no
funcionamento dos sistemas naturais, o problema está no homem e numa deficiente
adaptação das sociedades humanas às circunstâncias impostas pelo planeta.
Cada
estado está funcionalmente dependente do uso de áreas comuns que estão ao
serviço de todos os outros estados
Esta
relação entre soberania exclusiva e a comunhão de partes comuns globais,
surge-nos como o elemento que exige um esforço de cooperação de cada um. Este
facto incontornável coloca todos os estados na condição de serem
simultaneamente soberanos dos seus territórios e comproprietárias das partes
comuns do planeta.
A poluição, no seu sentido mais amplo, revela-se como uma das mais
importantes manifestações da relação entre a actividade económica produtiva e a
Biosfera. Uma actividade económica não tem os seus efeitos externos balizados
por barreiras artificais que impeçam de atacar o mundo que a rodeia.
Estas
externalidades negativas em economia, usualmente chamadas de “disfunções
ambientais” são na realidade “disfunções económicas”, uma vez que o problema
encontra-se na deficiente adaptação da economia à realidade biológica do
planeta.
Assinalam-se,
assim, como problemas jurídicos prévios que continuam por resolver, e que
impedem a necessária articulação entre a economia e o ambiente: a inexistência
de um regime de titularidade inequívoco, que defina os direitos e obrigações
relativamente ao uso dos bens ambientais, tornando a situação jurídica dos bens
conhecida e respeitada e a inexistência de uma instituição que assuma a
responsabilidade da titularidade colectiva do bem e proceda à organização dos
seus usos e garanta a sua manutenção.
Num
planeta que vive na situação iminente de uma catástrofe ecológica a nível global,
com o colapso da economia, é perfeitamente incompreensível que as florestas só
atinjam uma valoração económica depois de abatidas e transformadas em madeira.
Se o
desenvolvimento sustentável preconiza “desenvolvimento que satisfaz as
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
satisfazerem as suas próprias necessidades”, falta saber como se viabilizará este
enunciado num sistema com inúmeras disfuncionalidades coexistentes e que
apresenta uma descontextualização de raiz relativamente aos sistemas jurídico e
económico do Sistema Natural Terrestre.
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