domingo, 20 de maio de 2012


«Comprar créditos de carbono não é estratégia»

É já a partir de Janeiro do próximo ano que as regras do Comércio Europeu de Licenças de Emissão mudam. Após o período “experimental” do modelo, em que as licenças foram atribuídas gratuitamente (de 2008 a 2012), dentro de seis meses, o processo “será a doer”: a distribuição será feita gradualmente até serem totalmente compradas em 2027.
Para Portugal, a quota máxima de emissões, para o período 2008-2012, é de mais 27 por cento sobre o ano base: 1990. Neste ano de referência as emissões reais foram de 60 milhões de toneladas de CO2, logo a quota nacional estava nas 76,39 milhões de toneladas.
De acordo com os números divulgados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), durante este mês, o País deverá alcançar a meta estipulada, ou seja, as emissões reais anuais, serão, em média, inferiores ao valor referido. Muitos factores contribuíram para a redução das emissões reais, nomeadamente a aposta em energias renováveis, a crise económica e, ainda, o aumento dos preços dos combustíveis, conforme aponta Eduardo Marcos, especialista em emissões de CO2 e director-geral da Mercomind. «O sucesso do cumprimento de Portugal, deve-se a factores exógenos às políticas implementadas, isto é, a crise», sugere.
E se o novo regime estivesse já em vigor? «Em 2006 eu diria que a factura seria bastante dispendiosa, dado que nesse momento se apontava, em média, para um valor anual de 83 milhões de toneladas. Se assumíssemos os valores de mercado actuais, o conjunto dos contribuintes portugueses teria de pagar uma factura de 120 milhões de euros, ou 345 milhões de euros, se consideramos a média de preços dos últimos três anos de 10,15 €/toneladas», responde o responsável.
Nesta lógica e se se considerar o compromisso "20-20-20", em que Portugal só poderá passar em um por cento as emissões do ano base, «teremos um largo caminho a percorrer». Com os fundos angariados, Portugal pode sempre comprar créditos de carbono para compensar as emissões do País, porém esta estratégia não resolve os problemas estruturais, e «estaremos tão só a promover o desenvolvimento económico de outros países».
Ainda segundo o documento da APA, a composição das emissões de Portugal é principalmente gerada em dois sectores responsáveis por 72 por cento das emissões: a produção de electricidade (46 por cento) e os transportes (26 por cento). Por isso, o destino do capital angariado, para Eduardo Marcos, deve ser reinvestido nestes dois sectores, nomeadamente através da implementação de políticas eficazes, e eficientes, e sobretudo na investigação, desenvolvimento e aquisição de tecnologias que permitam a redução das emissões reais.
Júlia Seixas, especialista da E.Value, diz, lembrando que conforme o exposto na própria directiva o montante obtido com a venda de licenças tem de ser aplicado em medidas com impacto na redução das emissões de CO2. «Por todas as razões, o destino prioritário deveria ser em medidas e instrumentos de promoção da eficiência energética, e de consumo racional de energia. E estas medidas não se implementam com investimentos privados apenas, precisam sempre de um quadro público de apoio», recorda.

18/05/2012



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