quinta-feira, 17 de maio de 2012

Energias Renováveis: Prós e Contras


A energia, enquanto "capacidade de produzir trabalho", foi sempre uma das maiores preocupações do Homem porque dela depende o desenvolvimento de toda e qualquer sociedade.
Atenta à evolução do Homem e ao seu comportamento ao longo da História, podemos concretizar esta ideia recorrendo ao exemplo mais elementar nomeadamente, o da descoberta de obtenção do fogo através da fricção entre duas pedras. Esta foi a maior descoberta do Homem pois permitiu que este se protegesse do frio e dos seus predadores, bem como trouxe-lhe a possibilidade de cozinhar os seus alimentos, e aquecer-se nos períodos mais frios, afastando assim, os animais ferozes. Ou seja, rapidamente aquele ganhou a perceção de que poderia tirar partido de determinados recursos da natureza obtendo resultados eficientes, poupando muito esforço.
Assim, durante esta primeira fase, os sistemas de produção de energia assentavam apenas em métodos artesanais. Como exemplos temos a moagem de cereais a partir da força motriz das pás de moinhos ou o aquecimento de água a partir do calor da luz solar. Só mais tarde, acompanhado ao desenvolvimento da sociedade, é que surge uma nova preocupação: a criação de novos sistemas de energia, mais rápidos e eficientes. Nesta altura, os esforços viraram-se para a utilização de matérias-primas tais como, o carvão e o petróleo. Foi graças a todo o desenvolvimento científico e tecnológico que se criaram novos métodos de produção energética, começando pela energia primária até chegar à geração da eletricidade.
Importa agora referir, citando as palavras de Carla Amado Gomes, que "se é incontestável que os combustíveis fósseis tiveram um papel decisivo no grande salto tecnológico ocorrido com a Revolução Industrial do século XIX, a "Revolução ecológica" do final do século XX despertou os Estados e operadores económicos para a necessidade de apostar em fontes de energia renováveis, em complemento ou mesmo substituição das fontes que até então detinham o protagonismo".
            As fontes de energia renovável são aquelas que permitem produzir energia a partir de recursos naturais regeneráveis, isto é, tendencialmente regeneráveis ou naturalmente reabastecidos. São fontes de energia renovável o sol (energia solar), o vento (energia eólica), os rios e correntes de água doce (energia hidráulica), os mares e oceanos (energia maremotriz), as ondas (energia das ondas), a matéria orgânica (biomassa e biocombustível), o calor da terra (energia geotérmica), a água salobra (energia azul), o hidrogénio (energia do hidrogénio), a energia de fissão e fusão, entre outras. As energias renováveis são consideradas como energias alternativas ao modelo energético tradicional, tanto pela sua disponibilidade (presente e futura) tendencialmente garantida, ao contrário do que acontece com os combustíveis fósseis que necessitam de milhares de anos para a sua formação, bem como pelo seu menor impacto ambiental enquanto alteração no meio ambiente ou em algum de seus componentes, por determinada acção ou actividade humana.
Actualmente, as energias renováveis, no âmbito do aproveitamento racional dos recursos energéticos, são o centro de atenções de políticos, economistas e ambientalistas, quer a nível nacional como internacional. A cooperação entre os Estados é forçada no âmbito do Ambiente e em concreto das energias renováveis devido à dimensão transfronteiriça de certos recursos energéticos como a água dos rios internacionais assim como, pela obrigação de prevenção de riscos em pessoas e bens de Estados vizinhos.
Destacam-se no âmbito destas preocupações, sobre as energias, os seguintes documentos jurídicos:
- A Declaração de Estocolmo, de 1972, onde os estados afirmaram que " A capacidade do Globo de produzir recursos renováveis essenciais deve ser mantida e, sempre que praticável, restaurada ou melhorada"- (Princípio 3);
- A Declaração do Rio, de 1992, que introduziu um princípio de "responsabilidades comuns mas diferenciadas", de acordo com o nível dos Estados, no sentido de conservação, protecção e restauração da qualidade dos ecossistemas terrestres- (Princípio 7);
- O Plano de Acção para a Energia, em 2002, apelando ao concerto dos Estados no sentido da promoção da acessibilidade às fontes de energia, da eficiência energética e das energias renováveis. Note-se que neste Plano, foi criada uma lista de medidas de acção no domínio da energia- (Ponto 19 do Plano de Implementação);
- O Protocolo de Quioto, em 1997, que criou um regime imperativo no sentido de redução da utilização de combustíveis fósseis. Note-se que este Protocolo foi o que teve maior importância no âmbito da produção de energia a partir de fontes renováveis.
- A Conferência Internacional sobre as Energias Renováveis, em 2004, que teve como objectivo a fixação de um índice de produção de energia a partir de fontes renováveis no plano global. Embora com a participação de 154 Estados e mais de 3000 pessoas, não foi possível encontrar um consenso. No entanto, verificou-se na Declaração política final, por parte dos Estados uma preocupação comum face à necessidade de promoção de investigação científica e do financiamento de projectos de produção de energia a partir de recursos renováveis, especialmente determinantes no contexto da promoção do combate à pobreza e ao subdesenvolvimento.
Apesar da produção de energia a partir de recursos naturais renováveis ser muito vantajosa nos termos atrás referenciados, importa também realçar o seu carácter menos positivo ou melhor, desvantajoso. Pegando no exemplo da produção de electricidade através de fontes de energia renováveis, chegamos à conclusão de que para se poder obter tal energia (a electricidade) é preciso recorrer a técnicas de captação e transformação da energia captada (através das fontes de energia renováveis), que implicam a criação de novas tecnologias. Daqui decorre uma oneração proveniente da investigação precedente de tais técnicas de captação bem como, da sofisticada implementação que a sua concretização acarreta.
Assim, podemos concluir que nem sempre é economicamente viável aproveitar os recursos renováveis para fins de produção energética. Antes de serem tomadas quaisquer medidas nesse sentido, deve ser feita uma avaliação no sentido de serem ponderados os benefícios a médio e longo prazo e não apenas aqueles que surgem naquele momento presente (sendo portanto os motivos políticos determinantes para a rejeição ou desconsideração como alternativa de determinada forma de produção de energia).
Por outro lado, também encontramos no seio das energias renováveis o princípio do aproveitamento racional dos recursos ambientais energéticos. Este princípio visa, no fundo, garantir a interdependência entre o recurso renovável e a sua inserção no ecossistema bem como, entre aquele e a integridade de outros bens (que podem ser de qualquer natureza), de forma a não resultarem danos graves para si mesmo, nem para outros bens, decorrentes da sua utilização. Por exemplo, o etanol ou biocombustível verde (obtido através da fermentação do milho, da beterraba ou da cana de açúcar) têm-se revelado inimigos da Floresta Amazónica. A verdade, é que por força da plantação da cana-de-açúcar têm desaparecido muitos hectares daquela floresta. Quanto ao etanol, descobriu-se recentemente que são falsos os alegados efeitos benéficos que este traduz. Pelo contrário, o etanol provoca riscos sérios para a saúde pública pois dele derivam inúmeras doenças respiratórias. Também a produção de energia hidroeléctrica acarreta enormes impactos ambientais, decorrentes da construção de novas barragens.
No fundo, e concluindo o exposto, torna-se essencial proceder a uma avaliação sobre as implicações da adopção de novas técnicas de aproveitamento da energia a partir de fontes renováveis, e proceder à minimização/redução dos impactos negativos que delas decorrem sobre outros bens, naturais e humanos, através dos conhecimentos e instrumentos científicos disponíveis. Se é correcto afirmar que a utilização de fontes de energia renovável são muito positivas, no que toca à gestão equilibrada dos recursos e da redução da poluição atmosférica, também é preciso frisar que algumas delas (nomeadamente, a eólica e a hídrica) não são totalmente inócuas, numa perspectiva ecológica, podendo delas decorrer danos para outros bens.

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