Publicamos
esta notícia por considerarmos que a protecção do Ambiente e a sua recuperação são
de extrema importância, não só pelas consequências que as lesões que lhe são
causadas têm para a vida humana, mas também para as restantes espécies que
habitam o Planeta connosco. Actualmente, os problemas ambientais chegaram a um
ponto de extrema urgência e esta notícia demonstra-o, na perspectiva humana e,
mais especificamente, na perspectiva portuguesa.
Más condições ambientais matam 45
portugueses por dia
por Rui Pedro Antunes 19 Fevereiro 2012
“Estudo
da Organização Mundial da Saúde estima que todos os anos os problemas
ambientais provocam a morte a 16 700 portugueses e estão também na base de 14%
das doenças registadas no País.
O ambiente também mata em Portugal.
E cada vez mais. As más condições ambientais provocam a morte, em média, a 45
portugueses por dia. Ou seja: 16 700 por ano. As doenças respiratórias e
cardiovasculares são as que mais alimentam estes números. Os dados são do
último estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que relaciona o ambiente
em Portugal à morbilidade e mortalidade. Em todo o mundo, as mortes ascendem a
mais de 13 milhões. Esta semana a organização voltou a alertar para o problema
numa nova análise: os europeus perdem oito meses e meio de vida por causa das
más condições ambientais.
O estudo "Environmental Burden
of Disease" (Peso Ambiental das Doenças) torna-se, no entanto, mais
relevante, pois tem dados específicos sobre Portugal. Os cálculos da OMS
tiveram por base estudos da organização cruzados pelos seus peritos com
estatísticas nacionais. O documento - produzido há mais de dois anos para a
Conferência de Genebra, mas nunca noticiado - indica também que os problemas
ambientais estão relacionados com 14% das doenças em Portugal. Os níveis de
poluição, a qualidade da água, o tipo de construção dos edifícios - como o uso
de amianto -, comportamentos, radiações UV, poluição sonora e os métodos
agrícolas estão entre os vários parâmetros considerados no estudo.
É a segunda vez que a OMS faz estas
contas. Na primeira - divulgada em 2007 - estimava que morriam 15 mil
portugueses por ano. As 16 700 mortes - num total de cerca cem mil óbitos
registados anualmente no País - mostram que a mortalidade devido ao ambiente
agravou assim cerca de 12%.
O bastonário da Ordem dos Médicos considera este
estudo "importantíssimo por vir reforçar a necessidade de dar atenção às
diversas formas de poluição ambiental". José Manuel Silva espera que
"tanto cidadãos como governantes" não ignorem este "trabalho extremamente
relevante", que deve servir para que sejam "tomadas medidas para
proteger os cidadãos". "Uma vida saudável depende de um ambiente
saudável", conclui.
A opinião é partilhada pelo
presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia que defende que "estes
estudos são muito importantes por chamarem a atenção para um problema que afeta
acima de tudo os países industrializados". Carlos Robalo Cordeiro
concretiza as doenças mais afetadas pela má qualidade do ar: a doença pulmonar
obstrutiva e, principalmente, a asma brônquica. Os asmáticos, "se forem
expostos a elevados níveis de ozono, vão ter inflamações maiores, que depois
criam mais crises asmáticas, mais idas às urgências e, em situações graves, a
mortalidade".
De acordo com o mesmo trabalho, só
devido a infeções respiratórias decorrentes da má qualidade do ar, a OMS estima
que morram anualmente cerca de 2000 portugueses. A pneumologista e autora de
estudos sobre o tema, Cecília Longo, não se mostra surpreendida com os dados,
pois considera ser "consensual" que "más condições ambientais,
como a qualidade do ar, tenham interferência, quer na diminuição da esperança
média de vida quer na mortalidade, em especial a infantil". Sobre o
estudo, a especialista explica que a organização recorre muitas vezes a
estatísticas feitas a nível nacional.
Também o chefe da Divisão Ambiental
e Ocupacional da Direção-Geral da Saúde, Paulo Diegues, assume que a qualidade
do ar é um dos problemas decorrentes do ambiente com mais efeitos na saúde, em
particular "para doentes do foro respiratório, idosos e crianças".
Sobre os números da OMS, admite que "24% das causas de todas as doenças na
Europa têm origem em fatores ambientais", embora assuma ser "difícil
fazer uma relação direta entre o ambiente e as mortes, porque existem múltiplos
fatores a ter em conta". No entanto, lembra que "vários estudos em
Portugal apontam que, normalmente, quando há variação da qualidade do ar, há
uma maior apetência para as pessoas acorrerem às urgências".
São estudos como este que levaram o
Governo português a criar, em 2008, o Plano Nacional de Ação Ambiente e Saúde
(PNAAS), que visa "melhorar as políticas de prevenção, controlo e redução
de riscos para a saúde com origem em fatores ambientais". No próprio
enquadramento do plano são citados vários estudos da OMS. O documento lembra,
citando a organização mundial, que o conceito "Ambiente e Saúde"
abrange não só "os efeitos patológicos induzidos diretamente pelas
substâncias químicas, radiações e alguns agentes biológicos, como os efeitos na
saúde e no bem-estar". Ou seja, tal como os estudos aqui referenciados, o
problema deve ser entendido "num sentido lato - físico, psicológico,
social e estético, englobando a habitação, o uso dos solos e os
transportes".
População em
risco?
Representantes de duas das maiores
associações de defesa do ambiente em Portugal, Francisco Ferreira (Quercus) e
João Joanaz de Melo (Geota), concordam que o principal fator de risco ambiental
dos portugueses é "a má qualidade do ar nas grandes cidades", com
especial destaque para Lisboa e Porto. Os 3,3 milhões de portugueses que vivem
na zona envolvente das duas metrópoles têm um maior risco de contrair doenças
respiratórias. Além disso, de acordo com Francisco Ferreira, "os
habitantes destas cidades têm uma esperança média de vida inferior em cerca de
seis meses ao resto do País". Não esquecendo - como refere o estudo
apresentado esta semana pela OMS - que todos os europeus perdem 8,6 meses de
vida. Uma das principais falhas referidas são as más condições de construção
das casas, que matam cem mil por ano no Velho Continente. São tidos em conta
fatores como falta de aquecedores (que atinge 16 milhões) e a não existência de
chuveiros nas casas de banho (Portugal é o pior da "Europa dos 15"
neste parâmetro).
Níveis
excedidos 86 vezes em 2011
A lei obriga a que as populações
sejam avisadas quando os níveis do ozono atingem determinado limite. Em 2011,
isso aconteceu por 86 vezes em várias zonas do País. Em 2012, os níveis da
estação de medições de Leça do Balio-Matosinhos já excederam o limiar de
informação ao público no dia 26 de janeiro, o que acontece por ser uma zona de
elevado tráfego automóvel e situada a menos de sete quilómetros de uma
refinaria. Além do ozono, são feitas medições a partículas poluentes, nos quais
se destaca a Avenida da Liberdade, em Lisboa.
O problema piora quando as
autoridades não avisam as populações. Em junho de 2011, o DN noticiava isso
mesmo, quando no último fim de semana do mês os níveis foram ultrapassados em
Lisboa e no Porto. As autoridades da Invicta avisaram a população, o que não
aconteceu na capital.
As autoridades sabem, no entanto,
que este é um dos principais problemas. Em três anos, os gastos da
administração pública com a proteção do ar e clima aumentou quatro vezes, de
1,3 milhões, em 2008, para 5,7 milhões, em 2010.”
Fonte: http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2313720&especial=Os
pontos negros do ambiente - Grande
Investiga%E7%E3o&seccao=SOCIEDADE&page=-1
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