quinta-feira, 17 de maio de 2012

"Más condições ambientais matam 45 portugueses por dia"


Publicamos esta notícia por considerarmos que a protecção do Ambiente e a sua recuperação são de extrema importância, não só pelas consequências que as lesões que lhe são causadas têm para a vida humana, mas também para as restantes espécies que habitam o Planeta connosco. Actualmente, os problemas ambientais chegaram a um ponto de extrema urgência e esta notícia demonstra-o, na perspectiva humana e, mais especificamente, na perspectiva portuguesa.

Más condições ambientais matam 45 portugueses por dia

por Rui Pedro Antunes 19 Fevereiro 2012


“Estudo da Organização Mundial da Saúde estima que todos os anos os problemas ambientais provocam a morte a 16 700 portugueses e estão também na base de 14% das doenças registadas no País.

O ambiente também mata em Portugal. E cada vez mais. As más condições ambientais provocam a morte, em média, a 45 portugueses por dia. Ou seja: 16 700 por ano. As doenças respiratórias e cardiovasculares são as que mais alimentam estes números. Os dados são do último estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), que relaciona o ambiente em Portugal à morbilidade e mortalidade. Em todo o mundo, as mortes ascendem a mais de 13 milhões. Esta semana a organização voltou a alertar para o problema numa nova análise: os europeus perdem oito meses e meio de vida por causa das más condições ambientais.

O estudo "Environmental Burden of Disease" (Peso Ambiental das Doenças) torna-se, no entanto, mais relevante, pois tem dados específicos sobre Portugal. Os cálculos da OMS tiveram por base estudos da organização cruzados pelos seus peritos com estatísticas nacionais. O documento - produzido há mais de dois anos para a Conferência de Genebra, mas nunca noticiado - indica também que os problemas ambientais estão relacionados com 14% das doenças em Portugal. Os níveis de poluição, a qualidade da água, o tipo de construção dos edifícios - como o uso de amianto -, comportamentos, radiações UV, poluição sonora e os métodos agrícolas estão entre os vários parâmetros considerados no estudo.

É a segunda vez que a OMS faz estas contas. Na primeira - divulgada em 2007 - estimava que morriam 15 mil portugueses por ano. As 16 700 mortes - num total de cerca cem mil óbitos registados anualmente no País - mostram que a mortalidade devido ao ambiente agravou assim cerca de 12%.

O bastonário da Ordem dos Médicos considera este estudo "importantíssimo por vir reforçar a necessidade de dar atenção às diversas formas de poluição ambiental". José Manuel Silva espera que "tanto cidadãos como governantes" não ignorem este "trabalho extremamente relevante", que deve servir para que sejam "tomadas medidas para proteger os cidadãos". "Uma vida saudável depende de um ambiente saudável", conclui.

A opinião é partilhada pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia que defende que "estes estudos são muito importantes por chamarem a atenção para um problema que afeta acima de tudo os países industrializados". Carlos Robalo Cordeiro concretiza as doenças mais afetadas pela má qualidade do ar: a doença pulmonar obstrutiva e, principalmente, a asma brônquica. Os asmáticos, "se forem expostos a elevados níveis de ozono, vão ter inflamações maiores, que depois criam mais crises asmáticas, mais idas às urgências e, em situações graves, a mortalidade".

De acordo com o mesmo trabalho, só devido a infeções respiratórias decorrentes da má qualidade do ar, a OMS estima que morram anualmente cerca de 2000 portugueses. A pneumologista e autora de estudos sobre o tema, Cecília Longo, não se mostra surpreendida com os dados, pois considera ser "consensual" que "más condições ambientais, como a qualidade do ar, tenham interferência, quer na diminuição da esperança média de vida quer na mortalidade, em especial a infantil". Sobre o estudo, a especialista explica que a organização recorre muitas vezes a estatísticas feitas a nível nacional.

Também o chefe da Divisão Ambiental e Ocupacional da Direção-Geral da Saúde, Paulo Diegues, assume que a qualidade do ar é um dos problemas decorrentes do ambiente com mais efeitos na saúde, em particular "para doentes do foro respiratório, idosos e crianças". Sobre os números da OMS, admite que "24% das causas de todas as doenças na Europa têm origem em fatores ambientais", embora assuma ser "difícil fazer uma relação direta entre o ambiente e as mortes, porque existem múltiplos fatores a ter em conta". No entanto, lembra que "vários estudos em Portugal apontam que, normalmente, quando há variação da qualidade do ar, há uma maior apetência para as pessoas acorrerem às urgências".

São estudos como este que levaram o Governo português a criar, em 2008, o Plano Nacional de Ação Ambiente e Saúde (PNAAS), que visa "melhorar as políticas de prevenção, controlo e redução de riscos para a saúde com origem em fatores ambientais". No próprio enquadramento do plano são citados vários estudos da OMS. O documento lembra, citando a organização mundial, que o conceito "Ambiente e Saúde" abrange não só "os efeitos patológicos induzidos diretamente pelas substâncias químicas, radiações e alguns agentes biológicos, como os efeitos na saúde e no bem-estar". Ou seja, tal como os estudos aqui referenciados, o problema deve ser entendido "num sentido lato - físico, psicológico, social e estético, englobando a habitação, o uso dos solos e os transportes".

População em risco?

Representantes de duas das maiores associações de defesa do ambiente em Portugal, Francisco Ferreira (Quercus) e João Joanaz de Melo (Geota), concordam que o principal fator de risco ambiental dos portugueses é "a má qualidade do ar nas grandes cidades", com especial destaque para Lisboa e Porto. Os 3,3 milhões de portugueses que vivem na zona envolvente das duas metrópoles têm um maior risco de contrair doenças respiratórias. Além disso, de acordo com Francisco Ferreira, "os habitantes destas cidades têm uma esperança média de vida inferior em cerca de seis meses ao resto do País". Não esquecendo - como refere o estudo apresentado esta semana pela OMS - que todos os europeus perdem 8,6 meses de vida. Uma das principais falhas referidas são as más condições de construção das casas, que matam cem mil por ano no Velho Continente. São tidos em conta fatores como falta de aquecedores (que atinge 16 milhões) e a não existência de chuveiros nas casas de banho (Portugal é o pior da "Europa dos 15" neste parâmetro).

Níveis excedidos 86 vezes em 2011

A lei obriga a que as populações sejam avisadas quando os níveis do ozono atingem determinado limite. Em 2011, isso aconteceu por 86 vezes em várias zonas do País. Em 2012, os níveis da estação de medições de Leça do Balio-Matosinhos já excederam o limiar de informação ao público no dia 26 de janeiro, o que acontece por ser uma zona de elevado tráfego automóvel e situada a menos de sete quilómetros de uma refinaria. Além do ozono, são feitas medições a partículas poluentes, nos quais se destaca a Avenida da Liberdade, em Lisboa.

O problema piora quando as autoridades não avisam as populações. Em junho de 2011, o DN noticiava isso mesmo, quando no último fim de semana do mês os níveis foram ultrapassados em Lisboa e no Porto. As autoridades da Invicta avisaram a população, o que não aconteceu na capital.

As autoridades sabem, no entanto, que este é um dos principais problemas. Em três anos, os gastos da administração pública com a proteção do ar e clima aumentou quatro vezes, de 1,3 milhões, em 2008, para 5,7 milhões, em 2010.”


Fonte: http://www.dn.pt/especiais/interior.aspx?content_id=2313720&especial=Os pontos negros do ambiente - Grande Investiga%E7%E3o&seccao=SOCIEDADE&page=-1

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