As marés negras constituem verdadeiras catástrofes ecológicas e são uma forma dramática de poluição das águas. Este tipo de incidentes causa imensos danos devastadores e persistentes no ambiente devido à sua recorrência. Aliás, por causa da intensificação do tráfico de crude por via marítima são cada vez mais frequentes.
Este evento poluidor resulta do derrame de grande
quantidades de crude e/ou dos seus derivados no oceano e ocorre, de um forma
geral, devido a acidentes com petroleiros e refinarias de petróleo.
As principais causas de marés negras são a ruptura de
oleodutos, o transporte de hidrocarbonetos em alto-mar, pelos petroleiros, e as
actividades de exploração petrolífera off-shore (plataformas de exploração
de jazigos de petróleo, através de perfurações submarinas, localizadas nos
limites das plataformas continentais).
Embora alguns derrames de petróleo ocorram em
sequência de acidentes (naufrágios, colisões, explosões, etc.), uma parte muito
significativa ocorre devido a insuficiências técnicas. Como exemplo, refira-se
o caso das explorações de pesquisa nas plataformas off-shore que
libertam para os oceanos lamas com altos teores em hidrocarbonetos, ou ainda, a
lavagem de tanques dos petroleiros em alto-mar, uma prática regular, embora
proibida pela lei marítima internacional, por forma a poupar tempo e gastos
durante as paragens nos portos. De salientar ainda o mau estado de grande parte
da frota marítima internacional, formada em elevada percentagem por navios com
mais de 20 anos de idade e em deficientes condições de manutenção, assim como a
inadequada preparação técnica de muitas tripulações
Marés
negras históricas
A primeira maré negra de grandes dimensões foi o
naufrágio do petroleiro Torrey Canyon, no Canal da Mancha, em 1967.
Foram libertadas mais de 100 mil toneladas de crude que afectaram cerca de 180
quilómetros de praia.
Outro exemplo de maré negra histórica é a provocada
pelo naufrágio do petroleiro Almoco Cadiz, em Março de 1978, largando
mais de 230 mil toneladas de petróleo, contaminando 320 quilómetros de praia.
A 3 de Junho de 1979 ocorre uma explosão no poço de
petróleo Intox One, no golfo do México, que provoca a maior maré negra
da história. Mais de nove meses de trabalho foram necessários para conseguir
estagnar a fuga. Ao todo, foram lançadas ao mar um milhão de toneladas de
petróleo.
O maior desastre com petroleiros na história dos
Estados Unidos da América foi o derrame de 40 mil toneladas de crude pelo
petroleiro Exxon Valdez que encalhou num recife em Prince William
Sound, Alaska, na noite de 24 de Março de 1989. O petróleo derramado
espalhou-se num raio de 1 770 quilómetros ao longo do Alaska.
As sequelas causadas por este derrame ainda são hoje
estudadas. Apenas até Março de 1990, a Exxon, empresa a quem pertencia o
navio, tinha gasto mais de 2 mil milhões de dólares em indemnizações e em
acções de limpeza.
Apesar de não ter sido o derrame de petróleo mais
grave, este acidente fez com que governos e cientistas se preocupassem mais com
os problemas ambientais provocados por este tipo de acidente.
Por causa deste desastre, estima-se que tenham morrido
100 a 700 mil aves. Actualmente, o crude já se encontra extinto em algumas
praias devido á acção das ondas e de bactérias. Contudo ainda existem alguns
aglomerados de petróleo na superfície ou no subsolo, o que se torna perigoso
para as lontras, que procuram alimentam nas praias.
A maior parte das espécies afectadas conseguiram
proliferar após o incidente. Por outro lado, segundo um artigo da Nature,
uma espécie de peixe que representava uma das maiores fontes de rendimento dos
pescadores locais não recuperou do desastre. Porém, o derrame não é o único
factor que contribuiu para o desaparecimento deste peixe.
Doze anos após, foram detectados alguns problemas de
saúde em vários membros da equipa de limpeza, designadamente queimaduras
químicas, problemas respiratórios, entre outros.
Durante a Guerra do Golfo, em 1991, a libertação de
cerca de 600 mil toneladas de petróleo nas águas do Golfo Pérsico deu também
origem a uma das maiores marés negras de que há memória.
Esta maré negra causou danos severos nos recifes e no
fundo do mar. Sendo as águas do Golfo calmas e pouco profundas, o petróleo
levou mais tempo a dispersar.
No dia 13 de Novembro de 2002, quando o petroleiro Prestige
se encontrava 50 quilómetros de Galiza, é lançado um pedido de socorro pois foi
detectado um rombo no casco com cerca de 35 metros, que ameaçava a segurança da
tripulação assim como a sua perigosa carga. No dia seguinte, o navio podia ter
aportado em Muxia e procedido à trasfega da carga caso não fossem as ordens do
governo de Aznar para tal não permitir. Aí começou a ser rebocado para nordeste
quando a mancha de petróleo já tinha uma extensão de 37 quilómetros.
Os danos do navio foram aumentando ao ponto de, no dia
19, se partir em dois e se afundar, levando com ele o restante combustível que
ainda continha. O naufrágio deu-se apenas a 55 quilómetros da zona económica
exclusiva portuguesa.
Após de se ter afundado, o Prestige continuava
a libertar fuelóleo devido às suas diversas fendas. A sua maior parte foi
reparada por um submarino francês em Janeiro de 2003, altura em que as
autoridades espanholas conseguiram extrair 37 mil toneladas de detritos, tanto
em terra como no mar. Após seis meses o naufrágio, ainda eram libertadas duas
toneladas de fuelóleo por dia.
Por causa de acidente Portugal, Espanha e França
proibiram a passagem nas suas águas de navios de casco simples, como era o caso
do Prestige.
Segundo especialistas, o incidente do Prestige poluiu
mais do que o do Exxon Valdez. A contaminação estendeu-se a 200
quilómetros de costa e, de acordo com estimativas, mais de 200 mil aves
sofreram os efeitos desta maré negra, para além de muitos peixes.
A maior catástrofe ambiental da história da Espanha
provocou uma grave crise económica e social, uma vez que causou vários
distúrbios na cadeia alimentar marítima, afectando, assim, as pescas (área de
maior rendimento da Galiza) e que, nas praias atingidas, a prática balnear foi
proibida, perturbando o turismo.
Consequências
Existem vários efeitos das marés negras sobre
ambiente, que variam com o tipo de acidente e o local de acidente.
As marés negras causam grande transtorno a diversos
seres vivos, de diferentes maneiras. A película formada na superfície da água
impede a entrada da luz, que reduz a taxa de fotossíntese das plantas
marítimas, e as trocas gasosas entre o oceano e a atmosfera, o que diminui a
quantidade de oxigénio dissolvido na água provocando asfixia de diversos peixes
e a proliferação de bactérias anaeróbias.
Outro procedente das marés negras é a morte de aves
marinhas devido à libertação de gases, à hipotermia causada pela dissolução da
camada de gordura que torna as suas penas impermeáveis e à ingestão de petróleo
que ocorre quando mergulham na água para pescar (que também pode fazer com que
se afoguem uma vez que, quando cobertas com crude ficam demasiado pesadas para
nadar ou voar) ou quando limpam as penas com o bico.
Como os mamíferos marinhos necessitam de vir à superfície
para respirar, correm o risco de serem contaminados. O petróleo no pêlo
dificulta a termoregulação, levando à morte dos indivíduos afectados por
hipotermia ou por afogamento. Alguns derrames de petróleo atingiram zonas do
litoral onde se situam colónias de focas causando impactos graves na sua
reprodução e sobrevivência.
Os recifes de coral são muito afectados porque, uma
vez que se encontram em águas pouco profundas, existe uma maior probabilidade
de o petróleo se afundar misturando-se com sedimentos e areia.
Se o crude atingir a costa, os terrenos ficam
estéreis, apenas sendo propícios ao desenvolvimento de populações de algumas
bactérias devoradoras de hidrocarbonetos.
Para além das consequências no ambiente, as marés
negras podem ter efeitos socioeconómicos bastante negativos. Devido à
destruição da fauna e flora, áreas comerciais como a pesca, a aquacultura, a
apanha do marisco e o turismo são gravemente afectadas, o que,
consequentemente, leva a um aumento da taxa de desemprego.
Estes desastres ecológicos implicam um grande esforço
financeiro da parte do estado pois as operações de limpeza são muito caras e
existe necessidade de compensar os efeitos económicos provocados a curto prazo.
Este esforço financeiro prolonga-se por algum tempo uma vez que o efeitos
ambientais e económicos apenas se extinguem a médio ou longo prazo e por isso
são feitos investimentos para subsídios, de desemprego por exemplo, e com o
intuito de recuperar o equilíbrio natural dos ecossistemas.
As marés negras são, além do mais, bastante
traumatizantes para as populações locais e provocam directamente uma redução da
qualidade de vida. Em determinadas circunstâncias, os derrames de petróleo
podem causar conflitos diplomáticos.
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