domingo, 20 de maio de 2012

O Cinto Verde Alemão





Nun muss zusammenwachsen, was zusammengehört – Willi Brandt

(Agora, deve crescer unido o que deve permanecer unido)

A separação que ocorreu desde 1961 a 1989 entre a República Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA) ultrapassou em muito a simples divisão da cidade de Berlim pela construção do Muro. Essa divisão física continuava, por um complexo de arame farpado, campos de minas e torres de vigia, ao longo dos quase 1400km da fronteira entre os dois Estados, com entre 50 e 200 metros de largura de um lado ao outro. Para além disso, do lado da RDA, o acesso à fronteira era restrito nos últimos cinco quilómetros. O resultado foi o seguinte: durante quase trinta anos, esta área – avaliada em milhares de quilómetros quadrados – permaneceu quase intocada pelo Homem, e tornou-se num refúgio para cerca de seiscentas espécies ameaçadas, como a cegonha negra, o lince, a lontra europeia e ainda uma espécie rara de orquídeas (Cypripedium calceolus). Inclusivamente, foram “redescobertas” espécies que se julgavam extintas na Alemanha. A área ao longo da fronteira tornou-se, em plena Guerra Fria, num porto seguro para inúmeras espécies de animais caçados ou que viviam em escassez de alimentos causada pela agricultura intensiva e pelo recurso massivo a pesticidas, herbicidas e fertilizantes do lado da Alemanha de Leste.
Várias espécies de aves encontraram no Cinto Verde um bom local para repousar e procurar alimentos: foi o caso da águia-rabalva – a maior ave de rapina da Europa – o mocho-galego e o guarda-rios-comum, a título de exemplo.
Organizações ambientalistas alemãs, após a queda do Muro, promoveram o registo das espécies que compôem as ricas fauna e flora desta área e a qualificação do Cinto Verde como uma reserva natural.
Ainda no próprio ano da queda do muro, Kai Frobel, o “pai” do Cinto Verde, organizou o primeiro encontro de ambientalistas da RFA e da RDA na Baviera: em vez dos esperados 30 participantes, surgiram mais de 400, preocupados com a preservação do espaço da antiga fronteira enquanto reserva natural. Assim nasceu o primeiro projecto de protecção da natureza comum a todos os alemães, com aprovação por unanimidade. Hoje, Kai Frobel é delegado para a protecção de espécies na Organização Não Governamental BUND (ou “União”), que tem como principal objectivo a preservação da área correspondente ao Cinto Verde, que pela sua acção permaneceu intocado desde 1989 em 85% do território que ocupa. Alcançou, com efeito, a sua promoção a reserva natural e tem realizado inúmeras acções de divulgação destinadas a difundir a importância vital deste espaço numa Alemanha industrializada e com o seu meio ambiente ameaçado pela agricultura intensiva. Promoveu ainda a entrega das áreas, da parte do Estado federal alemão, às várias Länder atravessadas pelo Cinto. Desde 2008, o Estado alemão da Turíngia ficou plenamente responsável pela conservação da biosfera da zona da faixa que lhe correspondia. Seguiram-lhe os Estados do Brandemburgo, a Saxónia, a Baixa-Saxónia, Saxónia-Anhalt e o Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Em 2005, após longos anos de campanha da BUND, o Governo Federal da coligação SPD-CDU reconheceu oficialmente o Cinto Verde Alemão como património natural nacional.

Kate Connolly, repórter do Guardian, escreveu em 2009 um artigo online sobre o Cinto Verde, que pode ser consultado em http://www.guardian.co.uk/travel/2009/jul/04/germany-green-line-iron-curtain. Escreveu a jornalista o seguinte:

When I told friends I was setting off to explore the former border that once separated East and West Germany, several of them, even the German ones, scratched their heads and dug out their maps to find out where it ran. Unlike the Berlin Wall, the infamous symbol of the cold war that separated West Berlin from East, the much longer border that ran through the heart of Germany, has been largely forgotten.
German nature lovers, however, are well aware of the scar left by the iron curtain, once one of the world's most heavily fortified borders. (...) The legacy is a unique and extraordinarily rich chain of ad hoc nature reserves running for nearly 1,400km in a gentle zigzag from the Vogtland region, near the German-Czech border in the south, to the Baltic Sea in the north, now interlinked to form a grünes band, or green belt.
It is an impressive living monument to recent European history that is accessible to walkers and bikers. Eckhard Selz, a ranger and former East German from the Harz national park, summed it up over a bowl of pea and sausage soup atop the Brocken peak, one of the highlights of the route: "The division of Germany was a travesty that robbed people of their freedom, but a positive side effect was the way the sealed border allowed nature to flourish."
In four days we hiked around 100km of the green belt, starting at the Torfhaus visitor centre in the Harz national park, just outside the picturesque former mining town of Goslar. It was organised for us by the Harz tourist board and the Green Belt initiative, who will arrange guides, luggage transfers, routes and accommodation, allowing you the freedom to concentrate on the surroundings. Alternatively you can do the hikes alone. The paths are well marked and the local tourist offices on the route are stocked with plenty of maps and information about activities.”

Fontes:
http://www.bund.net/themen_und_projekte/gruenes_band/


Filipe Brito Bastos

Sem comentários:

Enviar um comentário