Nun muss zusammenwachsen, was
zusammengehört – Willi Brandt
(Agora, deve crescer unido o que deve permanecer unido)
A separação que ocorreu desde 1961 a 1989 entre a República
Federal da Alemanha (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA)
ultrapassou em muito a simples divisão da cidade de Berlim pela
construção do Muro. Essa divisão física continuava, por um
complexo de arame farpado, campos de minas e torres de vigia, ao
longo dos quase 1400km da fronteira entre os dois Estados, com entre
50 e 200 metros de largura de um lado ao outro. Para além disso, do
lado da RDA, o acesso à fronteira era restrito nos últimos cinco
quilómetros. O resultado foi o seguinte: durante quase trinta
anos, esta área – avaliada em milhares de quilómetros quadrados –
permaneceu quase intocada pelo Homem, e tornou-se num refúgio para
cerca de seiscentas espécies ameaçadas, como a cegonha negra, o
lince, a lontra europeia e ainda uma espécie rara de orquídeas
(Cypripedium calceolus). Inclusivamente, foram
“redescobertas” espécies que se julgavam extintas na Alemanha.
A área ao longo da fronteira tornou-se, em plena Guerra Fria, num
porto seguro para inúmeras espécies de animais caçados ou que
viviam em escassez de alimentos causada pela agricultura intensiva e
pelo recurso massivo a pesticidas, herbicidas e fertilizantes do lado
da Alemanha de Leste.
Várias espécies de
aves encontraram no Cinto Verde um bom local para repousar e procurar
alimentos: foi o caso da águia-rabalva – a maior ave de rapina da
Europa – o mocho-galego e o guarda-rios-comum, a título de
exemplo.
Organizações
ambientalistas alemãs, após a queda do Muro, promoveram o registo
das espécies que compôem as ricas fauna e flora desta área e a
qualificação do Cinto Verde como uma reserva natural.
Ainda no próprio
ano da queda do muro, Kai Frobel, o “pai” do Cinto Verde,
organizou o primeiro encontro de ambientalistas da RFA e da RDA na
Baviera: em vez dos esperados 30 participantes, surgiram mais de
400, preocupados com a preservação do espaço da antiga fronteira
enquanto reserva natural. Assim nasceu o primeiro projecto de
protecção da natureza comum a todos os alemães, com aprovação
por unanimidade. Hoje, Kai Frobel é delegado para a protecção de
espécies na Organização Não Governamental BUND (ou “União”),
que tem como principal objectivo a preservação da área
correspondente ao Cinto Verde, que pela sua acção permaneceu
intocado desde 1989 em 85% do território que ocupa. Alcançou, com
efeito, a sua promoção a reserva natural e tem realizado inúmeras
acções de divulgação destinadas a difundir a importância vital
deste espaço numa Alemanha industrializada e com o seu meio ambiente
ameaçado pela agricultura intensiva. Promoveu ainda a entrega das
áreas, da parte do Estado federal alemão, às várias Länder
atravessadas pelo Cinto. Desde 2008, o Estado alemão da Turíngia
ficou plenamente responsável pela conservação da biosfera da zona
da faixa que lhe correspondia. Seguiram-lhe os Estados do
Brandemburgo, a Saxónia, a Baixa-Saxónia, Saxónia-Anhalt e o
Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Em 2005, após longos anos de
campanha da BUND, o Governo Federal da coligação SPD-CDU reconheceu
oficialmente o Cinto Verde Alemão como património natural nacional.
Kate Connolly,
repórter do Guardian, escreveu em 2009 um artigo online
sobre o Cinto Verde, que pode ser consultado em
http://www.guardian.co.uk/travel/2009/jul/04/germany-green-line-iron-curtain.
Escreveu a jornalista o seguinte:
“When I told friends I was setting
off to explore the former border that once separated East and West
Germany,
several of them, even the German ones, scratched their heads and dug
out their maps to find out where it ran. Unlike the Berlin Wall, the
infamous symbol of the cold war that separated West Berlin from East,
the much longer border that ran through the heart of Germany, has
been largely forgotten.
German nature lovers, however, are
well aware of the scar left by the iron curtain, once one of the
world's most heavily fortified borders. (...) The legacy is a unique
and extraordinarily rich chain of ad hoc nature reserves running for
nearly 1,400km in a gentle zigzag from the Vogtland region, near the
German-Czech border in the south, to the Baltic Sea in the north, now
interlinked to form a grünes band, or green belt.
It is an impressive living
monument to recent European history that is accessible to
walkers and bikers. Eckhard Selz, a ranger and former East German
from the Harz national park, summed it up over a bowl of pea and
sausage soup atop the Brocken peak, one of the highlights of the
route: "The division of Germany was a travesty that
robbed people of their freedom, but a positive side effect was the
way the sealed border allowed nature to flourish."
In four days we hiked around 100km of
the green belt, starting at the Torfhaus visitor centre in the Harz
national park, just outside the picturesque former mining town of
Goslar. It was organised for us by the Harz tourist board and the
Green Belt initiative, who will arrange guides, luggage transfers,
routes and accommodation, allowing you the freedom to concentrate on
the surroundings. Alternatively you can do the hikes alone. The paths
are well marked and the local tourist offices on the route are
stocked with plenty of maps and information about activities.”
Fontes:
http://www.bund.net/themen_und_projekte/gruenes_band/
Filipe Brito Bastos
Filipe Brito Bastos
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