Opinião GS: Um ano
depois de Fukushima, a Alemanha está cada vez menos refém do nuclear
Publicado em 19 de Março de 2012.
“A transição para uma nova política
energética é o projecto do século para os alemães. É a atitude certa e é
fazível. Mas, em termos de implementação, grande parte do trabalho ainda está
por fazer. O calendário é apertado e a expansão da rede o maior dos desafios. E
os outros países estão a observar muito de perto a forma como a Alemanha está a
trabalhar”.
A frase pertence a Michael Süß, CEO
da Siemens para a área da energia e membro do conselho de
gestão, e revela bem a forma cautelosa como a Alemanha reagiu a um
acontecimento que, directamente, não a atingiu: a tragédia de Fukushima.
A distância entre Tóquio e Berlim são 8.900
quilómetros mas, nesse 11 de Março de 2011, encurtou-se drasticamente. Ao
som das sirenes que acordaram Fukushima e as cidades contíguas, outras sirenes – menos
literais – tocaram a 9.000 quilómetros de distância.
A razão não era para menos. Poucos
meses antes, a chanceler Merkel tinha renovado o compromisso nuclear alemão.
Depois do desastre japonês, o Governo alemão mandou fechar provisoriamente – e
depois permanentemente – oito centrais nucleares.
Semanas depois, outra boa nova. Até
2022, a Alemanha vai abandonar a energia nuclear e encerrar as suas 18 centrais
nucleares. O projecto, como revelou Michael Süß, é desafiante e todas as outras
potências nucleares estão de olho no País. É que os objectivos são mesmo
complexos: a nova política energética alemã prevê o corte das emissões de CO2
em 80% até 2050 e aumentar a quota das renováveis, até à mesma data, em 80%.
Dentro de dez anos, um total de 20
GW de capacidade suportada, actualmente, pelas centrais nucleares, terá de ser
gerada através de outra fonte. O volume de investimentos também será brutal:
€20 mil milhões por ano.
Para completar esta transição energética alemã, a
cereja no topo do bolo: em Setembro de
2011, a Siemens anunciou que deixaria de colaborar com a energia nuclear.
Estavam lançados os dados.
Entretanto, os primeiros resultados
da nova política energética alemã já são visíveis. A quota da energia nuclear
caiu dos 22 para os 18%, devido sobretudo ao encerramento das oito centrais
nucleares. A percentagem das renováveis no mix energético, por outro lado,
subiu dos 16% em 2010 para os 20% em 2011, impulsionada pelo solar
fotovoltaico.
São boas notícias, mas ainda há
muitos desafios. Esta transição tem de ser inteligente e baseada na eficiência
energética e de recursos e na inovação tecnológica. E há vários riscos: o
burocrático, relacionado com o tempo previsto para planeamento e
aprovações; o da falta de capacidade para investimento; e o da competitividade
da indústria alemã, caso os custos energéticos sejam demasiado elevados.
Leia o relatório da Siemens sobre a
transição energética alemã e vejas as histórias que a
multinacional partilhou no seu site sobre o mesmo tema.
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